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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Personagens inesquecíveis

Em razão das férias passei um tempo afastada mas agora estou  de volta, penso no que escrever e me ocorre que espaços como este, que  se destinam a registrar a história local  devem trazer  histórias de homens comuns, ou seja,  daqueles que pelo modelo tradicional de escrever, estariam a margem do registro, ficando o espaço reservado para os que realizaram grandes feitos ou ocuparam lugar de destaque em determinado momento.

Pois bem, esta semana fui surpreendida com a notícia nas redes sociais de que um dos personagens folclóricos guardados com carinho na minha memória, João Medeiros, o conhecido João Popó,  completou seus 109 anos e estava sendo homenageado com carinho por sua família. João Popó juntamente com o Rosca, a Cidália, a Nair, a Dalva Garrão, o Major, a Santinha e tantos outros, foram mais que pessoas comuns, foram personagens que enfeitaram o dia a dia desta cidade e povoaram o imaginário das crianças que viveram sua infância na década de 70.


Todas as pequenas cidades, em todos os tempos, veem passar por suas calçadas estas pessoas que deixam sua marca de maneira diferente do padrão, mas estas pessoas com suas existências tão especiais ficarão  guardadas para sempre na  memória, seja por seu carisma, pelas histórias fantásticas que os rodeiam como virar lobisomem, seja por uma  longa barba branca e  terno cinza surrado, seja como um romântico par, ou mais recentemente como quem  cantava a “Madalena”, ou outro que, inocente como criança, se alegra em assustar seus conhecidos, ou mesmo aquela que, rodeada por seus cachorros, é uma figura tão especial em nossa Canguçu. Não preciso dizer seus nomes, todos nós conhecemos estes que foram citados e outros tantos que passaram por estas calçadas e deixaram suas marcas.


Levantando o véu da história de nosso município, ressurge neste momento um personagem que não cheguei a conhecer, o Patuá, não este Patuá que hoje conhecemos mas um antigo morador desta terra  que muitos canguçuenses com certeza ainda lembram.



Imagem:  Arquivo Fotográfico do Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa


PATUÁ


Não assistiu ninguém ao formidável fim

Daquele homem pobre de corpo tão torto

Quando o acharam calmo e só, estava morto

Morrera só, coerente de viver assim.


Alma boa, a desgraça o não fizera ruim

Lembrava um quasímodo: dava um desconforto

Vê-lo sentado e triste como um Buda absorto

Uma caricatura horrenda para mim!


Alma chumbada a vida,

O corpo ao chão chumbado

Quando bebia muito, esvoaçava os braços

Como se fosse, o pobre, um Ícaro tombado!

Bebera a vida inteira, era esse o seu cunho

E pressentindo a morte escutando seus passos,

Quis morrer calmo e só,

Morrer como um “tutumunho”.


Quem não conheceu o Patuá? Por certo que todos os habitantes de Canguçu e mesmo os forasteiros que estacionaram, ainda que por poucas horas no hotel Brasil, de cuja caridade viveu longos anos, tiveram ensejo de conhecer aquela figura popular a quem a natureza criminosa tudo negara. Achaparrado e disforme, horrente aspecto a locomover-se de mãos ao chão era, entretanto uma alma boa. Em sua memória apresentamos um soneto da verve do Dr. Jorge de Moares,  onde o ilustre vate conseguiu de forma muito feliz apresentar-nos uma imagem nítida do pobre Patuá.


Fonte: Jornal a Voz de Canguçu  ano de 1953 - Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa.



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