Em razão das
férias passei um tempo afastada mas agora estou de volta, penso no que
escrever e me ocorre que espaços como este, que se destinam a
registrar a história local devem trazer histórias de
homens comuns, ou seja, daqueles que pelo modelo tradicional de
escrever, estariam a margem do registro, ficando o espaço reservado para os que
realizaram grandes feitos ou ocuparam lugar de destaque em determinado momento.
Pois bem,
esta semana fui surpreendida com a notícia nas redes sociais de que um dos
personagens folclóricos guardados com carinho na minha memória, João Medeiros,
o conhecido João Popó, completou seus 109 anos e estava sendo
homenageado com carinho por sua família. João Popó juntamente com o Rosca, a
Cidália, a Nair, a Dalva Garrão, o Major, a Santinha e tantos outros, foram mais que pessoas
comuns, foram personagens que enfeitaram o dia a dia desta cidade e povoaram o
imaginário das crianças que viveram sua infância na década de 70.
Todas as
pequenas cidades, em todos os tempos, veem passar por suas calçadas estas
pessoas que deixam sua marca de maneira diferente do padrão, mas estas pessoas
com suas existências tão especiais ficarão guardadas para sempre na memória,
seja por seu carisma, pelas histórias fantásticas que os rodeiam como virar
lobisomem, seja por uma longa barba branca e terno cinza
surrado, seja como um romântico par, ou mais recentemente como quem cantava
a “Madalena”, ou outro que, inocente como criança, se alegra em assustar seus
conhecidos, ou mesmo aquela que, rodeada por seus cachorros, é uma figura tão
especial em nossa Canguçu. Não preciso dizer seus nomes, todos nós conhecemos
estes que foram citados e outros tantos que passaram por estas calçadas e
deixaram suas marcas.
Levantando o
véu da história de nosso município, ressurge neste momento um personagem que
não cheguei a conhecer, o Patuá, não este Patuá que hoje conhecemos mas um
antigo morador desta terra que muitos canguçuenses com certeza
ainda lembram.
Imagem: Arquivo Fotográfico do
Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa
PATUÁ
Não assistiu ninguém ao formidável
fim
Daquele
homem pobre de corpo tão torto
Quando o
acharam calmo e só, estava morto
Morrera só,
coerente de viver assim.
Alma boa, a
desgraça o não fizera ruim
Lembrava um
quasímodo: dava um desconforto
Vê-lo
sentado e triste como um Buda absorto
Uma
caricatura horrenda para mim!
Alma
chumbada a vida,
O corpo ao
chão chumbado
Quando bebia
muito, esvoaçava os braços
Como se
fosse, o pobre, um Ícaro tombado!
Bebera a
vida inteira, era esse o seu cunho
E
pressentindo a morte escutando seus passos,
Quis morrer
calmo e só,
Morrer como
um “tutumunho”.
Quem não
conheceu o Patuá? Por certo que todos os habitantes de Canguçu e mesmo os
forasteiros que estacionaram, ainda que por poucas horas no hotel Brasil, de
cuja caridade viveu longos anos, tiveram ensejo de conhecer aquela figura
popular a quem a natureza criminosa tudo negara. Achaparrado e disforme,
horrente aspecto a locomover-se de mãos ao chão era, entretanto uma alma boa.
Em sua memória apresentamos um soneto da verve do Dr. Jorge de Moares, onde
o ilustre vate conseguiu de forma muito feliz apresentar-nos uma imagem nítida
do pobre Patuá.
Fonte:
Jornal a Voz de Canguçu ano de 1953 - Museu Municipal Capitão
Henrique José Barbosa.
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