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domingo, 4 de novembro de 2018

Casa de carnes Santo Antônio



Meu pai Antônio Farias Reyes, minha mãe Neifa Goulart Reyes, minha irmã Maria Cândida e eu.

Álbum de família

Esta é uma época do ano que a saudades daqueles que nos são caros chegam de mansinho e tomam conta do nosso coração. Não deveria ser assim, mas a correria  do dia a dia ocupa tanto o nosso tempo que chegamos a não ter tempo para sentir saudades, então chega o mês de novembro e dedicamos os dois primeiros dias para sentir saudades, olhar  fotografias e relembrar velhas histórias, buscando reter na memória os olhares, os sorrisos, as palavras, a maneira como eram ditas, enfim, dedicamos tempo a saudade e as lembranças daqueles que ocuparam espaços imensos em nossas vidas.
Então hoje venho relembrar meu pai  e sua atividade, primeira que eu lembro, açougueiro.
Resolvi escrever sobre este assunto primeiro pela saudade, segundo porque parei para pensar sobre esta atividade e  nas mudanças que sofreu nas últimas décadas.
Meu pai teve um açougue de nome Santo Antônio e lembro muito bem  tanto do primeiro local que funcionou como do último.O primeiro açougue do meu pai funcionou em uma casa onde hoje é a residência  do casal Renato e Noeli Von Laer;  era uma casa estreita e comprida, possuía apenas uma espécie de  balcão construído de tijolos, rebocado e pintado e com acabamento de pedra, tipo as pedras  que eram colocadas nos balcões de pia nas cozinhas; a pedra no açougue do meu pai era escura, entre o vermelho e o marrom, já na nossa casa era verde...  mas voltando ao açougue, era tudo muito simples, em cima do balcão uma tábua grande para cortar a carne, essa tábua tinha um prego grande onde era colocado um osso da perna do animal, um osso de uns 10 centímetros  que servia, imagino, para prender a carne na hora de serra-la, o que era feito com uma serra manual; tinha também uma balança daquelas de dois pratos onde em uma era colocada a carne e em outra os pesos e para finalizar uma faca super afiada, pois meu pai era ágil no ofício de afiar a faca com a chaira e haviam ganchos onde a carne era pendurada mas não lembro como eram colocados .  Assim era, tudo muito simples, sem geladeiras, câmaras frias, sacolas ou balanças digitais e muitas e muitas vezes também sem carne, sim sem carne,  pois esta não estava disponível no açougue quando as pessoas queriam, precisava-se espera que o animal fosse carneado; quando havia carne era colocada uma bandeirola de tecido vermelho próximo a porta do açougue,  este era o aviso de que já havia carne a disposição , sendo assim, a vizinhança ia chegando com pratos e bacias para buscar carne, já que como disse anteriormente, não havia sacolas plásticas para acondiciona-las. Ia esquecendo de registrar que os açougues vendiam apenas carne, nada mais.
Quando eu já era maiorzinha meu pai construiu um açougue do lado da nossa casa, este sim era moderno seguindo o estilo dos açougues de Pelotas, onde íamos todos os sábados no nosso carro “Esplanada” preto com a figura de um leão em cada porta e os bancos forrados de couro vermelho, pois bem, íamos a Pelotas  buscar frangos resfriados  para vender, saliento que era o único açougue da cidade a vender frangos. Como disse anteriormente, foi o primeiro açougue bem equipado de Canguçu, possuía azulejos brancos nas paredes, balcão refrigerado onde meu pai colocava manteiga Damby, maçãs argentinas e a grande novidade iogurte natural... nosso açougue tinha ainda câmara fria, balança moderna para a época, maquinas de fazer guisado e bife, serra elétrica, enfim, várias modernidades que os outros não possuíam, além de meu pai e meu avô trabalharem de jaleco, também  algo que não era usado, mas o que mais se destacava eram os sacos plásticos personalizados  “Casa de carnes Santo Antônio” . Depois de um tempo meu pai acabou vendendo o açougue para o Rubens Pinheiro, se não me engano no ano de 1976. Boas lembranças !!! Saudades dele, do açougue e de todos aqueles que amo e que não estão mais comigo.
Trabalharam em nosso açougue que eu lembro, o Adão, o Sr. Reinoldo, meu avô Tacico e o Gringo; o Teca trabalhava com  meu pai nas carneadas, a Santa derretia a graxa em uma peça fora do açougue e a dona Nadica o limpava aos finais de semana.

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