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terça-feira, 3 de julho de 2012

Escola Irmãos Andradas - Parabéns pelos 100 anos! Uma bonita e significativa história...



Grupo Escolar Irmãos Andradas- 1950
Foto: Arquivo fotográfico Museu municipal Capitão Henrique José Barbosa


DENOMINAÇÕES DA ESCOLA



            COLÉGIO ELEMENTAR             08.03.1912

            GRUPO ESCOLAR                      1917

            GRUPO ESCOLAR ANDRÉ PUENTE    03.12.1931

            GRUPO ESCOLAR IRMÃOS ANDRADAS     10.10.1940
    
            UNIDADE ESTADUAL DE ENSINO IRMÃOS ANDRADAS 12.05.1978

            E.E DE 1º INCOMPLETO  IRMÃOS ANDRADAS  21.11.1986

            E.E.E.F. IRMÃOS ANDRADAS 23.02.2001



HISTÓRICO


            COLÉGIO ELEMENTAR

                        O decreto nº 1479 de 26.05.1909, modifica o Programa de Ensino Complementar e cria Colégios Elementares no Estado.

                        Tendo em vista que as escolas complementares tem por fim desenvolver o ensino elementar e preparar candidatos ao magistério público primário e que isto não vinha acontecendo, a não ser na capital, resolve criar Colégios Elementares, de preferência nos lugares cujos governos municipais ofereçam o edifício gratuitamente ao Estado.

FONTE: A Federação   de 31.05.1909.

                        ...Finalmente, pelo Decreto nº 1826 de 08.03.1912, é criado o Colégio Elementar da Vila de Cangussu, nos termos do Decreto nº 1479.
                       
                        Diretor: Professor João Gualberto Pinto Bandeira  ( tio do Padre Afonso Bandeira e descendente do Cel. Rafael Pinto Bandeira, de tão histórica atuação nos períodos de 1763 a 1773).

                        Professores: 1º classe mista :  - Manoela Vaz Bento ( filha do Professor Antônio Joaquim Bento )

                        2ª classe masculina: - 1º secção: Francisco de Paula Macalão

                                                           2ª Secção: João Gualberto Pinto Bandeira

                        3ª classe feminina: 1ª secção: Isolina da Silva Aurora.

FONTE:  A Federação  de 09.03.1912
                        
                      Funcionou de 1912 a 1915, num histórico prédio da Praça Marechal Floriano, hoje residência do Sr. Emílio Klug

                        Em 1915, o Colégio Elementar mudou-se para um casarão, na rua General Osório, ao lado do Clube Harmonia, que servia de sede ao Clube Republicano "Borges de Medeiros'.
                        Continuou Diretor, o professor João Gualberto Pinto Bandeira, e os professores Francisco de Paula Macalão, Isolina da Silva Aurora e Aspásia...
                         Neste mesmo ano, em março, segundo uma "Caderneta de temas " do aluno Firmo Moreira, passou a chamar-se Colégio Elementar Araújo Porto Alegre, mas em 1917 ( segundo a mesma fonte ) mudou para "Grupo Escolar".


                        GRUPO ESCOLAR

                        Em 1917, passou a denominar-se Grupo Escolar.
                        Tinha como Diretor, o Professor Alfredo Isidoro Andara ( avô do Prefeito de Pelotas  Irajá Andara Rodrigues).

                        Professoras: Alzira Ferreira da Silva
                                            Luiza d' Ambrósio
                                            Maria dos Santos Pires
                                            Normélia Saraiva

                        Em 1922, foi nomeado para Diretor do Grupo Escolar, o professor Olypio Frota.
                        Eram professoras: Luiza d' Ambrósio, Maria Santos e Esther Freitas.
                        Contava a Escola com 248 alunos e uma frequência média de 186 alunos.

                        A Prefeitura auxiliou com material escolar e vestuário aos que, por seu estado de pobreza, deixavam de frequentar a escola.

                        Antes da época dos exames foi ordenada a pintura e caiação do prédio ( que já então pertencia aos herdeiros de João da Cunha).

                        Dado o grande desenvolvimento atingido pelo Grupo Escolar, ousamos ponderar ao benemérito governo do Estado ser de inteira justiça e restabelecimento do Colégio Elementar nesta vila.

FONTE: O  Canguçuense



                        GRUPÓ ESCOLAR ANDRÉ PUENTE

                        Denominado pelo Decreto nº 4899 de 03.12.1931.

                        O Interventor Federal no Estado do Rio Grande do Sul atendendo aos serviços prestados a instituição pública do Estado e a dedicação com que o professor André Leão Puente, natural de Canguçu, exerceu o magistério público e particular, em homenagem a sua memória decreta:

                        Art. 1º- Fica denominado "André Puente ", o Grupo Escolar de Cangussu. Assinado- José Antônio Flores da Cunha".

                        O Profeassor André Leão Puente , embora tenha nascido no interior de Bagé, é considerado canguçuense, uma vez que toda sua família é natural de Canguçu e para cá retornaram quando ele era ainda criança.

                        Em 5 de abril de 1931 foi criado o " Círculo de Pais e Amigos da Instituição", tendo como fundador o Professor Ernesto Fernandes Coelho e sendo sua diretoria composta pelos seguintes membros:

                        Presidente Honorário: Cel Joaquim Maria Soares ( Ex Intendente do Município)
                        1º Vice-presidente: Zeferino Dutra Duarte ( Doca)
                        2º Vice-presidente: Henrique de Souza Oliveira
                        1º Secretário Professora Ondina Quadros
                        2º Secretário Esther Freitas Jorge

                        Oradores: Dr. Sisínio Bastos de Figueiredo 
                                         Dr. Walter de Oliveira Prestes
                                         Dr. Ângelo Granã Garcia

                        Este organísmo foi mais tarde reformulado pela professora Maria Garces de Moraes ( Maria Moraes Medeiros ), passando a denominar-se "Círculo de Pais e Mestres".


                        GRUPO ESCOLAR IRMÃOS ANDRADAS

                        Redenominado  pelo Decreto Nº 154 de 10.10.1940 da Interventotia Federal.

                        Justificando-se a mudança do nome pelo motivo de também existir em Canoas, um Grupo Escolar André Puente ( a Professora Cláudia Puente lá residia e era filha do venerável mestre) e que surgiram muitas confusões pela duplicidade de nomes.
                        A primeira  diretora dos Irmãos Andradas  (1940) foi a Professora Maria Garces de Moraes, que tornou-se mais tarde , patrona do Grupo Escolar Maria Moares Medeiros da Coxilha dos Campos, 1º subdistrito deste município.
                        Em 08 de maio de 1942, foi lançada a pedra fundamental do atual prédio, já que o desenvolvimento da cidade e o grande número de alunos estavam a exigir instalações condígnas com a evolução da época, pelo Interventor Estadual Gal. Osvaldo Cordeiro de Farias , Secretário de Educação Dr. J. P. Coelho de Souza, Secretário de Obras Públicas Dr. Meilreles Leite que visitavam Canguçu, num giro pela zona sul.
                        A construção do prédio dos Irmãos Andradas só ficou pronta em 1950 e isso graças aos esforços do Interventor Municipal Dr. Jayme de Farias que doou o terreno e arcou com a construção, uma vez que o Estado apenas subvencionou a obra.
                        Recebeu o novo prédio em 20.07.1950 a diretora, Professora Florisbela Machado Barbosa e foi inaugurado pelo Prefeito  Victor Marques Porto.
                         O Clube Agrícola foi fundado em 12.10.1946 e registrado no Ministério da Agricultura , sob o nº 1268 conforme comunicado de 19.06.1947.
                          A Biblioteca foi reorganizada em abril de 1952, pela professora Georgina Quadros dos Santos, que mais de 30 anos foi professora deste educandário e sua ex -diretora, dando-lhe o nome de Olavo Bilac.
                         Em 1954, a professora Elaine Yuchen Selistre criou a classe de Jardim da Infância.
                         Em 1976, a Biblioteca foi reformulada, recebendo o nome de André Puente, numa homenagem ao Ex-Patrono do Grupo Escolar.
            As primeiras canguçuenses a se graduarem professoras e a lecionarem no Grupo Escolar foram: Moraima Nunes Bragana,  Florisbela Machado Barbosa, Zeni Dias Cardoso, Alda Aguiar Valente, Márcia Rocha Moreira, Marli Menezes da Rocha, Neusa Rosa da Rosa.
            Em 1982, quando foi feita a pesquisa eram ainda vivas as diretoras:
            Georgina Quadros dos Santos
Joaquina Lessa da Rosa;
Florisbela Machado Barbosa;
Terezinha de Jesus Borges Baldez;
Elaine Yuchen Selistre;
Alda Aguiar Valente e
Marlene Barbosa Coelho ( designada em 16.01.1976)


UNIDADE ESTADUAL DE ENSINO IRMÃOS ANDRADAS
            Reorganizado pelo Decreto nº 26.990 de 12.05.1978, passou a fazer parte da Escola Estadual Integrada de 1º Grau "Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva", organizada, designada e denominada através do decreto nº 27.605 de 03.10.1978, como Unidade A deste complexo.
            Em outubro de 1978, foi reestruturado o Círculo de Pais e Mestres e adotado o estatuto Padrão, conforme Decreto nº 22.626 de 01.09.73 e registrado na Secretaria do Estado.
            Em dezembro de 1982, os Irmãos Andradas comemoraram seu jubileu  de Platina, inaugurou a placa onde esta resumida sua trajetória.

'                                   "IRMÃOS ANDRADAS: 70 ANOS DE EDUCAÇÃO
                                   Colégio Elementar :08.03.1912
                                   Grupo Escolar : 1917
                                   Grupo Escolar André Puente : 03.12.1931
                                   Grupo Escolar Irmãos Andradas :10.10.1940
                                   Unidade Estadual de Ensino Irmãos Andradas: 12.05.1978
                        Pelo Jubileu de Platina, a homenagem da Direção, CPM e Bettin Ltda.

                                                                                   Canguçu 1982

Todas as informações constam nos  Arquivos Históricos do Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa, onde tive o prazer de trabalhar por 12 anos.


          De 1982 aos dias de hoje,já se passaram 30 anos de história desta escola tão presente na vida dos canguçuenses, pois aqueles que passaram pelo seu portão  e lá permaneceram como alunos, guardam com certeza as mais caras recordações de sua vida escolar.
          Minha mãe estudou no Grupo Escolar, eu estudei no Grupo Escolar, meu filho mais velho estudou na EEEF Irmãos Andradas, meu pequeno Eduardo estuda ainda nesta escola e tudo o que posso dizer com certeza é que todos nós temos orgulho de ter feito parte destes 100 anos de história .



            Guardo lembranças queridas daquela época em que lá estudei, tenho ainda na memória a figura tão especial da dona Neusa Paes do Amaral, diretora; ela tinha um tom de voz inconfundível ( parece que se fechar os olhos ainda posso ouvi-la); usava roupas elegantes, sempre bem vestida com suas saias retas e casacos ( lembro que usava muito a cor cinza) e seus sapatos de salto. Lembro da dona Hercília que  trabalhava na cozinha; dona Maria na merenda; minha professora professora do "Jardim da Infância", dona Noemi Bierhals, esposa do reverendo Gilberto Bierhals, ela contava com a ajuda de uma moça de nome Miriam, não sei quem era, acho que deveria ser estagiária. O Jardim da Infância funcionava em uma casa onde hoje está o prédio do Forum. Minha professora do 1º ano foi a dona Neiva, na época Nogueira.Lembro com carinho daquela época, dona Neli, Cleusa, Ana Lília, Zeni Cardoso, todas ela foram minhas professoras. Colegas... lembro de vários. No Jardim: Márcia e Lara Terres, Alice Rocha, Cleber Amaral, Álvaro Luiz Amaral, Raquel Canez, Cátia Machado, Gianne Bettin, André Rodrigues... tantos outros !!

Alunos do Grupo Escolar Irmãos Andradas - 1922
Comemoração ao Centenário da Independência do Brasil

Foto: Arquivo fotográfico Museu municipal Capitão Henrique José Barbosa

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Em tempos de seca - "Água pura e cristalina"

Particularmente acho muito gostoso escrever sobre a minha cidade, também nunca tentei escrever sobre mais nada que não fosse aquilo que me toca o coração.
Sou uma pessoa saudosista, gosto de poesia, de fotografia, de lembranças e, onde eu acharia toda essa combinação? Com certeza em um Museu. Sim, eu encontrei muito do que buscava, nos quase 12 anos que trabalhei no Museu Capitão Henrique José Barbosa; descobri muita beleza, e novidades históricas, antes desconhecidas para mim e tenho certeza, para a maioria dos canguçuenses. Todas estas fotos lindas de um Canguçu do passado que circulam nos computadores, ai estão porque eu não consegui deixá-las escondidas como sempre estiveram, em uma caixa, atrás de um armário. Eu as descobri e me apaixonei por todas elas, e com apoio do Secretário de Cultura da época, Andrio Aguiar Duarte, que acreditou no meu trabalho e investiu na informatização do nosso Museu, organizei-as em álbuns, scaniei-as, dando vida a estas imagens maravilhosas que hoje enchem os olhos dos que, como eu, enxergam a beleza desta cidade ( sinto apenas por não ter conseguido terminar o trabalho de informatização do Museu... fazer o que?) . Alegro meus olhos quando vejo estas fotografias, porém, morro de ciúme quando aparecem simplesmente jogadas em computadores, para todos olharem, sem fazer referência a sua história. Por isso sempre que escolho com carinho uma fotografia para que vocês possam apreciar procuro escrever algo sobre ela, para que mais pessoas possam também reservar no coração um cantinho para esta cidade tão nossa.

CACIMBA DA PRATA





Foto: Arquivo fotográfico do Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa



A cacimba da Prata, hoje esquecida, durante muitos anos abasteceu a cidade e serviu de fonte de emprego a muitos aguateiros. Hoje se encontra soterrada, em terreno pertencente ao Sr. Pedro Boemeke, no local onde o mesmo possui um depósito de materiais de construção, no passado conhecido com Madeireira da Prata.
Construída em 1902 pelo intendente Coronel Hipólito Gonçalves da Silva, a cacimba da Prata ainda é muito confundida com a cacimba do Ouro. Além de sua importância como reservatório de água, a Cacimba da Prata, cujo nome ninguém sabe a origem, encerra em si uma lenda curiosa: "Visitante que bebesse de sua água sempre voltaria a Canguçu".
Possuía aquedutos em estilo romano, por onde era conduzida a água de um cerro próximo. A água que vinha de sua nascente era acumulada durante a noite em seu reservatório, de onde era distribuída para toda a cidade.
Em 1941, quando uma terrível seca assolou a cidade e todas as demais vertentes secaram, a Cacimba da Prata abasteceu, com sua água límpida e fresca, todas as casas de Canguçu. Suas torneiras mal conseguiam alimentar as intensas filas que se formavam para o recolhimento de água.
Francisco Freitas, antigo morador, lembra que pessoas ganhavam a vida carregando água em latas ou pipas. Eram poucas as famílias que tinham poço em seu quintal. Desta forma alguns carregadores tinham seus fregueses certos, onde, dependendo da periodicidade, era cobrada uma taxa por dia ou por mês.
Outro antigo morador, Mozart Madeira de Oliveira, lembra inclusive de algumas pessoas que durante muito tempo carregaram água: seu João, que embora praticamente cego, fazia o carregamento numa pipa puxada por um burro, Liundina Fonseca ( Lindinha), carregou água té os 72 anos, puxando uma pipa de vinte litros, com a qual abastecia mais de 20 famílias. Dona Lindinha, conforme o senhor Mozart, desde a madrugada já se encontrava na cacimba juntando água e interrompia seu serviço quando chegava à noite. Como o terreno onde se localizava o reservatório ficava em lugar elevado e ela tivesse idade bastante avançada, os "moleques " que também carregavam água a auxiliava a conduzir sua pipa até a cacimba.
Em 1952, na administração do Sr. Conrado Ernani Bento, a cacimba foi restaurada pelo Sr. Carlos Quettz. Nesta ocasião ela perdeu sua forma antiga, deixando de apresentar sua parte superior.
A partir de 1966, a cacimba da Prata começou a ser menos procurada. Este ano marcou a implantação da CORSAN em Canguçu e os primeiros encanamentos de água potável começaram já a servir algumas residências.

FONTE: Notícia do jornal "O Canguçuense" - Arquivo : 1 - Pasta: História
Museu Hist. Mun. Capitão Henrique José Barbosa


Segundo Céres da Rosa Goulart, em seu livro, "Pálidos traços da História de Cangussu":


"Desde os primórdios de Cangussu, desde a vila até acanhada e pequena cidade, o suprimento de água nas casas de família e nos hotéis, que na época não eram mais de dois, esteve a cargo das aguateiras."


"Um grupo de mulheres, sem recursos e sem herança a esperar, adotou a profissão de carregar água. Elas abriam um saco branco, daqueles de açúcar ou uma roupa velha, fora de uso e enrolavam mais ou menos como uma cobra grossa, que colocavam sobre a cabeça, onde equilibravam uma lata daquelas que vinham com querosene, cheias de água. Isto servia para amenizar o impacto da lata, do peso que carregavam. Caminhavam a passos lentos,olhando para frente, a lata sobre a cabeça um tanto inclinada e que nunca virava, tal a prática que adquiriam. Impossível calcular quantas vezes faziam o trajeto das cacimbas às casas e vice-versa, durante o dia. Primeiro ia a água para os hotéis e depois para as casas de família. E assim, de lata em lata elas enchiam barris, talhas de barro ou quaisquer outro recipientes que lhes era oferecido pelas donas de casa, o suficiente para o gasto de um dia inteiro. O trabalho delas começava com o clarear do dia e só terminava quando o sol ia se escondendo. Um trabalho duro, pesado, tão humilde quanto indispensável, com o que elas garantiam o suado e chorado pão de cada dia".

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Lembrança em dia de chuva

Em dias chuvosos como hoje, gosto de ler, de abrir o baú das lembranças, dar asas a imaginação, gosto de relembrar , de voltar no tempo e rever imagens, histórias e pessoas. Hoje lendo o que escreveu uma querida amiga, Céres da Rosa Goularte em seu livro "Pálidos traços da História de Cangussu", sobre a sociedade canguçuense nas primeiras décadas do século XX:
"Os cangussuenses sempre souberam viver em sociedade, à moda vigente trajar-se e cultivavam a cultura."
"No tempo em que a moda era ditada para o mundo por Paris, os figurinos e a competência das profissionais garantiam o bem vestir da sociedade. Quando da visita de pessoas ilustres, como aquelas que se destacavam na política, ou mesmo simples visitantes de posição, ninguém fazia feio nas festas ou solenidades..."
Continuando: "Os alfaiates confeccionavam as roupas masculinas. As camisas eram brancas, de punhos e colarinhos muito bem engomados, trabalho cuidado pelas lavadeiras e passadeiras, com o devido esmero..."
E ainda: "As roupas femininas eram feitas em sua totalidade, pelas costureiras. Eram exímias em sua profissão e trabalhavam muito...
... "As costureiras observavam com aptidão e bom gosto os modelos, medidas exatas, acabamento esmerado. Incluiam as roupas de passeio e as destinadas as festas, mais simples ou mais sofisticadas. Desde os primórdios foi assim."
... "Os homens e as mulheres brilhavam nas festas. As aguateiras garantiam o banho das famílias e as costureiras encarregavam-se do aspecto exterior. Era uma vida difícil, não resta a menor dúvida mas o povo vivia bem e amava o seu chão natal. Se o começo da vida em Cangussu foi difícil, foi também, nobre, valoroso, forte e bonito."

Retirado do livro - Pálidos traços da História de Cangussu ( págs 17 -20 ) de autoria de Céres da Rosa Goularte



Depois de ler estas páginas, fechei os olhos e com saudades lembrei de Dona Quinotinha Mattos ( se não me engano seu nome era Joaquina), mãe do professor Joé Mattos. Era costureira e uma figura realmente inesquecível, pois seus traços, sua personalidade e sua estatura eram marcantes... Era pequena, muito miúda, parecia pouco maior que eu no tempo que estou lembrando ( na época eu deveria ter 7 anos ) sempre bem arrumada, saias justas e sapatos de salto. Lembro de vê-la com uma saia xadrezinho de preto, cinza e branco e camisa branca de jabot, mas o que mais me chamava a atenção eram seus sapatos, muito pequenos, pareciam de criança, acho que ela calçava o número 33.
Sua casa ainda existe, e se localiza quase em frente a minha casa; Era uma casa escura com granitina ( não sei dizer o que era, mas era assim que chamavam aquelas casas com reboco escuro e com um certo brilho). A fachada tinha duas janelas e uma porta central, na peça da esquerda era o seu ateliê de costura, lembro de uma mesa quadrada, daquelas pesadas e com duas hastes de cada lado e quando abertas sustentavam duas outras partes ( chamavam de folhas) ficando a mesa, assim, com o dobro do tamanho, os banquinhos pintados de branco, duas máquinas de costura daquelas pretas, antigas, de pedal, onde ela confeccionava os modelos escolhidos pelas freguesas; os figurinos ficavam empilhados em cima de uma mesinha no seu quarto que era separado da sala de costura por um guarda-roupas com flores entalhadas na porta. Lembro ainda de um cesto próximo da mesa onde ela guardava os retalhos que sobravam. Eu gostava de sentar embaixo da mesa, fazendo roupinhas para as minhas bonecas com os paninhos que ela me dava.
Dona Quinotinha costurava muito e minha avó Jacy às vezes ajudava fazendo bainhas e alinhavos; lembro de trabalharem com ela a Maria Marques e a Marfa , que depois casou com o Sr. Hélio Mattos ( ele era irmão da Dona Maria, Mozinha e Geraldo Mattos que, se eu não me engano, eram filhos do primeiro casamento do marido da dona Quinotinha. Eu não conheci o pai do professor Joé).
Na janela da direita era o quarto das penssionistas, meninas que vinham do interior para estudar na cidade, entre elas lembro da Céres e da Inês.
Dona Quinotinha andava sempre com um molho de chaves em uma argolinha, pendurada no cinto; era uma figura diferente seu rosto tinha fortes marcas de expressão, seu cabelo curto era escuro e seu rosto era emoldurado por óculos de armação preta.
Lembro da casa, da costureira, da tesoura de cortar costuras ( daquelas grandes pretas e pesadas), lembro também de algumas freguesas, entre elas eu admirava a Dona Yonne Bento, sempre elegante, bem vestida, com aqueles sapatos de saltos muito altos ( como até hoje).
Minha mãe sempre dizia: “- Dona Quinotinha é ótima costureira, porém, nunca faz o modelo que a gente escolhe, sempre diz – “Mudei porque este te senta melhor”.


Saudades Dona Quinotinha! Desejo que esteja bem onde estiver.



Moças da sociedade canguçuense, com certeza usando modelos confeccionados pelas mãos habilidosas de nossas costureiras do passado.



Foto: Arquivo fotográfico do Museu Municipal Capitão Hnrique José Barbosa



Só mais uma lembrança: Minha amiga, Marlene Coelho, dizia: "_ Depois que as mulheres passaram a usar tênis e calças Jeans, perderam a elegância". Acho que ela tinha razão!