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quarta-feira, 16 de maio de 2018

De Pelotas a Cangussú em autos Ford

Adoro ler jornais antigos e descobrir estas preciosidades.
Muitas vezes sinto como se tivesse presenciado tudo isso.
Tudo tão singelo e tão significativo.
Reparem na importância dada a educação, visitas importantes obrigatoriamente visitavam a escola, eram acolhidas  com respeito pelos alunos e professores... Tudo tão diferente. Nossos aluno hoje não se empolgam com visitas  as escolas, principalmente se forem políticos e sinceramente não podemos culpa-los, antes, pelo contrario, temos que acompanha-los na indignação.
Tanta coisa mudou neste país, principalmente no que se refere aos valores morais e éticos.
Que pena!

Mas deixemos estas considerações para lá e vamos apreciar esta notícia do ano de 1913.


De Pelotas a Cangussú em autos “Ford”
Empresa Jorge Ribeiro & C.

                Sob os melhores auspícios inaugurou-se a linha de automóveis, da empresa Jorge Ribeiro  &C. entre Pelotas e Cangussú.
                Nesta viagem inicial, a convite, tomaram parte o nosso amigo Sr. Carlos Souza, d’ Opinião Pública, F Paradeda, desta folha e, além do apreciado cavalheiro Sr. Manoel Ribeiro, representante da empresa, os estimáveis senhores Antônio Amaral, Donato Freda, Maurício Correa de Paiva e Marcelino Ribeiro Filho.
                A partida dessa cidade deu-se as 7h 20min da manhã, sob um chuvisqueiro impertinente a previsão, devido as últimas chuvas, de que as estradas encontrar-se-iam más.
                Não quis porém, a boa estrela da empresa, ou dos viajantes, que tão má impressão e pior expectativa se mantivessem, pois os trechos de estradas sucediam-se em condições regulares e o sol, em pouco, tocava os cerros alterosos, vestindo a natureza de galas e aos excursionistas provocando alegrias.
                Os autos, dois novos e excelentes double phaeton de 20 cavalos, da reputada marca Ford, preferidos pela sua construção solida, simples mecanismo e conforto, deslizavam suaves e silenciosos, chegando a desenvolver a velocidade de 45 quilômetros  a hora.
                Em um ou outro ponto esta marcha era diminuída, já pelas condições naturais do terreno, já pela má conservação ou por efeito do trânsito que por eles se faz e que é enorme.
                Pouco depois das 11 horas e despertando a natural curiosidade dos habitantes, que alvoroçados, chegavam às janelas, penetravam os dois autos , aos sons álacres de suas buzinas, na alegre e linda Villa de Cangussú, indo parar à porta de seu operoso  intendente, nosso distinto amigo Sr. Coronel Genes Bento.
                Recebidos com essa tradicional e cavalheiresca hospitalidade rio grandense, os excursionistas ai pouco se demoraram, retirando-se momentos depois, acompanhados do Coronel Genes Bento, para o Hotel Progresso onde fez, gentilmente, servir excelente almoço.Durante este chegavam cavalheiros que iam cumprimentar os forasteiros.
                Terminado almoço e acompanhados dos nossos prestimosos e dignos amigos, Srs. Dr. Cezar Dias, Juiz da Comarca, Major José Albano de Souza, Promotor Público e Coronel João Paulo Prestes, os excursionistas saíram a passeio, visitando o espaçoso e belo edifício da Intendência, o templo Católico sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição e o Colégio Elementar. Neste funcionavam no momento as três classes, com uma frequência superior a 120 alunos.
                Acompanhados do zeloso diretor do estabelecimento, nosso amigo Sr. João Gualberto  Pinto Bandeira, os excursionistas visitaram  as referidas classes, cumprimentando seus inteligentes professores.
                No livro de visitas, o nosso companheiro F. Paradeda  lançou a lisonjeira impressão que lhe causara o Colégio Elementar, subscrevendo todos os presentes.
                Aproximando-se a hora do regresso, os excursionistas dirigiram-se ao palacete do coronel intendente do município, a fim de apresentar-lhe despedidas, sendo recebido pelo Coronel Genes Bento e sua Exma.  e virtuosa esposa que a todos cercava dos mais cativantes afagos.
                Após a ligeira palestra, os presentes foram convidados a passar à sala de refeições, sendo-lhes servida uma taça de champanhe.
                Brindaram por essa ocasião: o Sr. Coronel Genes Bento,  a Empresa Jorge Ribeiro & C., congratulando-se pelo melhoramento, inaugurando e fazendo votos pelo seu melhor êxito; o nosso amigo Cesar Dias que por tantos anos redatou o Correio Mercantil, saudando a imprensa de Pelotas nos representantes da Opinião e Diário ; o nosso companheiro F. Paradeda, ao nosso Coronel Genes Bento e Dr. Cesar Dias, dignos representantes dos poderes municipal e judiciário, o Sr. Manoel Jorge Ribeiro & C., ao Coronel genes Bento e sua distinta família.
                Trocaram-se após as despedidas , retirando-se os excursionistas, gratamente penhorados ao acolhimento do fidalgo Sr. Coronel Genes Bento e sua distinta consorte, para o Hotel Progresso, onde já os aguardavam os velozes e elegantes Fords.
                Permutados outros adeuses , entre votos de: - Boa viagem! Aos que partiram e de: - Até a volta! Aos que ficavam, os motores roncaram, os “chauffeurs” moveram as alavancas , acionaram os “guidons” e as duas viaturas deslizaram rápidas pelas lindas ruas de Cangussú, descobrindo-se os que nelas iam  numa saudação aos seus hospitaleiros habitantes, enquanto as “sirenas” vibravam sonoras, até que seus sons se perdessem ao longe.
                O regresso foi feito como a ida, sem incidentes, graças a perícia dos chauffeurs Hildebrando Ferreira da Silva e Feliciano e portando-se os automóveis de modo a confirmar  a justa nomeada da fábrica Ford.
                Descontadas as paradas, a viagem, tanto de ida como de volta, foi feira em quatro horas, sendo o percurso de 14 léguas para lá e outras tantas para cá.
                É, sem dúvida um tempo excelente, que vai se tornar menor quando se completarem as reparações que os dignos intendentes deste e do município vizinho vão mandar proceder nas estradas.
                Terminando esta breve notícia, damos parabéns a população de Cangussú pelo relevante melhoramento e aos Srs. Jorge Ribeiro &C. desejamos a melhor correspondência à iniciativa que acabam de efetuar.
                É este o horário da empresa: saída de Pelotas às segundas e sextas-feiras ao meio dia. Regresso: às terças-feiras e sábados, às 6 horas da manhã.
                O preço da passagem simples é de 15$000 e redonda 30$000, com 10% de abatimento.

Fonte: Jornal Diário Popular – 31 de julho de 1913- Arquivo Conrado Ernani Bento Cx- A volume 1

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