Muitas vezes sinto como se tivesse presenciado tudo isso.
Tudo tão singelo e tão significativo.
Reparem na importância dada a educação, visitas importantes obrigatoriamente visitavam a escola, eram acolhidas com respeito pelos alunos e professores... Tudo tão diferente. Nossos aluno hoje não se empolgam com visitas as escolas, principalmente se forem políticos e sinceramente não podemos culpa-los, antes, pelo contrario, temos que acompanha-los na indignação.
Tanta coisa mudou neste país, principalmente no que se refere aos valores morais e éticos.
Que pena!
Mas deixemos estas considerações para lá e vamos apreciar esta notícia do ano de 1913.
De Pelotas a Cangussú
em autos “Ford”
Empresa Jorge Ribeiro
& C.
Sob os
melhores auspícios inaugurou-se a linha de automóveis, da empresa Jorge Ribeiro &C. entre Pelotas e Cangussú.
Nesta
viagem inicial, a convite, tomaram parte o nosso amigo Sr. Carlos Souza, d’
Opinião Pública, F Paradeda, desta folha e, além do apreciado cavalheiro Sr.
Manoel Ribeiro, representante da empresa, os estimáveis senhores Antônio
Amaral, Donato Freda, Maurício Correa de Paiva e Marcelino Ribeiro Filho.
A
partida dessa cidade deu-se as 7h 20min da manhã, sob um chuvisqueiro
impertinente a previsão, devido as últimas chuvas, de que as estradas
encontrar-se-iam más.
Não
quis porém, a boa estrela da empresa, ou dos viajantes, que tão má impressão e
pior expectativa se mantivessem, pois os trechos de estradas sucediam-se em
condições regulares e o sol, em pouco, tocava os cerros alterosos, vestindo a
natureza de galas e aos excursionistas provocando alegrias.
Os
autos, dois novos e excelentes double phaeton de 20 cavalos, da reputada marca
Ford, preferidos pela sua construção solida, simples mecanismo e conforto,
deslizavam suaves e silenciosos, chegando a desenvolver a velocidade de 45
quilômetros a hora.
Em um
ou outro ponto esta marcha era diminuída, já pelas condições naturais do
terreno, já pela má conservação ou por efeito do trânsito que por eles se faz e
que é enorme.
Pouco
depois das 11 horas e despertando a natural curiosidade dos habitantes, que
alvoroçados, chegavam às janelas, penetravam os dois autos , aos sons álacres
de suas buzinas, na alegre e linda Villa de Cangussú, indo parar à porta de seu
operoso intendente, nosso distinto amigo
Sr. Coronel Genes Bento.
Recebidos
com essa tradicional e cavalheiresca hospitalidade rio grandense, os excursionistas
ai pouco se demoraram, retirando-se momentos depois, acompanhados do Coronel
Genes Bento, para o Hotel Progresso onde fez, gentilmente, servir excelente
almoço.Durante este chegavam cavalheiros que iam cumprimentar os forasteiros.
Terminado
almoço e acompanhados dos nossos prestimosos e dignos amigos, Srs. Dr. Cezar
Dias, Juiz da Comarca, Major José Albano de Souza, Promotor Público e Coronel
João Paulo Prestes, os excursionistas saíram a passeio, visitando o espaçoso e
belo edifício da Intendência, o templo Católico sob a invocação de Nossa
Senhora da Conceição e o Colégio Elementar. Neste funcionavam no momento as
três classes, com uma frequência superior a 120 alunos.
Acompanhados
do zeloso diretor do estabelecimento, nosso amigo Sr. João Gualberto Pinto Bandeira, os excursionistas visitaram as referidas classes, cumprimentando seus
inteligentes professores.
No
livro de visitas, o nosso companheiro F. Paradeda lançou a lisonjeira impressão que lhe causara
o Colégio Elementar, subscrevendo todos os presentes.
Aproximando-se
a hora do regresso, os excursionistas dirigiram-se ao palacete do coronel
intendente do município, a fim de apresentar-lhe despedidas, sendo recebido
pelo Coronel Genes Bento e sua Exma. e
virtuosa esposa que a todos cercava dos mais cativantes afagos.
Brindaram
por essa ocasião: o Sr. Coronel Genes Bento,
a Empresa Jorge Ribeiro & C., congratulando-se pelo melhoramento,
inaugurando e fazendo votos pelo seu melhor êxito; o nosso amigo Cesar Dias que
por tantos anos redatou o Correio Mercantil, saudando a imprensa de Pelotas nos
representantes da Opinião e Diário ; o nosso companheiro F. Paradeda, ao nosso
Coronel Genes Bento e Dr. Cesar Dias, dignos representantes dos poderes
municipal e judiciário, o Sr. Manoel Jorge Ribeiro & C., ao Coronel genes
Bento e sua distinta família.
Trocaram-se
após as despedidas , retirando-se os excursionistas, gratamente penhorados ao
acolhimento do fidalgo Sr. Coronel Genes Bento e sua distinta consorte, para o
Hotel Progresso, onde já os aguardavam os velozes e elegantes Fords.
Permutados
outros adeuses , entre votos de: - Boa viagem! Aos que partiram e de: - Até a
volta! Aos que ficavam, os motores roncaram, os “chauffeurs” moveram as
alavancas , acionaram os “guidons” e as duas viaturas deslizaram rápidas pelas
lindas ruas de Cangussú, descobrindo-se os que nelas iam numa saudação aos seus hospitaleiros
habitantes, enquanto as “sirenas” vibravam sonoras, até que seus sons se
perdessem ao longe.
O
regresso foi feito como a ida, sem incidentes, graças a perícia dos chauffeurs
Hildebrando Ferreira da Silva e Feliciano e portando-se os automóveis de modo a
confirmar a justa nomeada da fábrica
Ford.
Descontadas
as paradas, a viagem, tanto de ida como de volta, foi feira em quatro horas,
sendo o percurso de 14 léguas para lá e outras tantas para cá.
É, sem
dúvida um tempo excelente, que vai se tornar menor quando se completarem as
reparações que os dignos intendentes deste e do município vizinho vão mandar
proceder nas estradas.
Terminando
esta breve notícia, damos parabéns a população de Cangussú pelo relevante
melhoramento e aos Srs. Jorge Ribeiro &C. desejamos a melhor correspondência
à iniciativa que acabam de efetuar.
É este
o horário da empresa: saída de Pelotas às segundas e sextas-feiras ao meio dia.
Regresso: às terças-feiras e sábados, às 6 horas da manhã.
O preço
da passagem simples é de 15$000 e redonda 30$000, com 10% de abatimento.
Fonte: Jornal Diário Popular – 31 de julho de 1913- Arquivo
Conrado Ernani Bento Cx- A volume 1
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