Meu pai Antônio Farias Reyes, minha mãe Neifa Goulart Reyes, minha irmã Maria Cândida e eu.
Álbum de família
Esta
é uma época do ano que a saudades daqueles que nos são caros chegam de mansinho
e tomam conta do nosso coração. Não deveria ser assim, mas a correria do dia a dia ocupa tanto o nosso tempo que
chegamos a não ter tempo para sentir saudades, então chega o mês de novembro e
dedicamos os dois primeiros dias para sentir saudades, olhar fotografias e relembrar velhas histórias,
buscando reter na memória os olhares, os sorrisos, as palavras, a maneira como
eram ditas, enfim, dedicamos tempo a saudade e as lembranças daqueles que
ocuparam espaços imensos em nossas vidas.
Então
hoje venho relembrar meu pai e sua
atividade, primeira que eu lembro, açougueiro.
Resolvi
escrever sobre este assunto primeiro pela saudade, segundo porque parei para
pensar sobre esta atividade e nas
mudanças que sofreu nas últimas décadas.
Meu
pai teve um açougue de nome Santo Antônio e lembro muito bem tanto do primeiro local que funcionou como do
último.O primeiro açougue do meu pai funcionou em uma casa onde hoje é a residência do casal Renato e Noeli Von Laer; era
uma casa estreita e comprida, possuía apenas uma espécie de balcão construído de tijolos, rebocado e
pintado e com acabamento de pedra, tipo as pedras que eram colocadas nos balcões de pia nas
cozinhas; a pedra no açougue do meu pai era escura, entre o vermelho e o
marrom, já na nossa casa era verde... mas
voltando ao açougue, era tudo muito simples, em cima do balcão uma tábua grande
para cortar a carne, essa tábua tinha um prego grande onde era colocado um osso
da perna do animal, um osso de uns 10 centímetros que servia, imagino, para prender a carne na
hora de serra-la, o que era feito com uma serra manual; tinha também uma
balança daquelas de dois pratos onde em uma era colocada a carne e em outra os
pesos e para finalizar uma faca super afiada, pois meu pai era ágil no ofício
de afiar a faca com a chaira e haviam ganchos onde a carne era pendurada mas
não lembro como eram colocados . Assim
era, tudo muito simples, sem geladeiras, câmaras frias, sacolas ou balanças
digitais e muitas e muitas vezes também sem carne, sim sem carne, pois esta não estava disponível no açougue
quando as pessoas queriam, precisava-se espera que o animal fosse carneado; quando
havia carne era colocada uma bandeirola de tecido vermelho próximo a porta do
açougue, este era o aviso de que já havia
carne a disposição , sendo assim, a vizinhança ia chegando com pratos e bacias
para buscar carne, já que como disse anteriormente, não havia sacolas plásticas
para acondiciona-las. Ia esquecendo de registrar que os açougues vendiam apenas
carne, nada mais.
Quando
eu já era maiorzinha meu pai construiu um açougue do lado da nossa casa, este
sim era moderno seguindo o estilo dos açougues de Pelotas, onde íamos todos os
sábados no nosso carro “Esplanada” preto com a figura de um leão em cada porta
e os bancos forrados de couro vermelho, pois bem, íamos a Pelotas buscar frangos resfriados para vender, saliento que era o único açougue
da cidade a vender frangos. Como disse anteriormente,
foi o primeiro açougue bem equipado de Canguçu, possuía azulejos brancos nas
paredes, balcão refrigerado onde meu pai colocava manteiga Damby, maçãs
argentinas e a grande novidade iogurte natural... nosso açougue tinha ainda câmara fria, balança moderna para a época, maquinas de fazer guisado e bife, serra
elétrica, enfim, várias modernidades que os outros não possuíam, além de meu
pai e meu avô trabalharem de jaleco, também
algo que não era usado, mas o que mais se destacava eram os
sacos plásticos personalizados “Casa de
carnes Santo Antônio” . Depois de um tempo meu pai acabou vendendo o açougue
para o Rubens Pinheiro, se não me engano no ano de 1976. Boas lembranças !!!
Saudades dele, do açougue e de todos aqueles que amo e que não estão mais
comigo.
Trabalharam
em nosso açougue que eu lembro, o Adão, o Sr. Reinoldo, meu avô Tacico e o
Gringo; o Teca trabalhava com meu pai
nas carneadas, a Santa derretia a graxa em uma peça fora do açougue e a dona
Nadica o limpava aos finais de semana.