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sábado, 24 de agosto de 2013

Dia de chuva...mate doce e brincadeira de boneca

             Em dia de chuva não tem como não escrever.

          O frio e a chuva me prendem em casa... teria uma infinidade de coisas para fazer, arrumar armários, dar seguimento ao trabalho de conclusão de curso que estou fazendo, porém, confesso, as lembranças vão vindo como os pingos de chuva que caem na janela fazendo barulho.
          Hoje ainda, comentei que o inverno está rigoroso, o frio esta intenso e usei aquela frase tão comum de se ouvir " A muito tempo não fazia um frio destes"... Com certeza frios como estes já fizeram muitas vezes, nós é que insistimos em não lembrar, mas sempre terá aquele em que nossa memória ficou...algum inverno passado, quando o frio nos deixou alguma lembrança.
          Sempre que sinto o frio, ou me vejo em um dia como o de hoje, imediatamente me vem a mente o fogão à lenha da casa da minha querida avó Jacy.; deixava a cozinha quentinha, mas eu suspeito que o maior calor vinha do carinho e da doçura daquela velhinha tão mimosa. Fazíamos rodadas de tricô à volta do fogão, recheadas de comentários, mate doce com casquinha de laranja ou bergamota, rosquinhas doces ou salgadas, ou talvez um delicioso pão chato com torresmo.
       Mais atrás um pouco no tempo, lembro a chegada do colégio, vinhamos do Aparecida literalmente entanguidas pelo frio e o vento. Chegávamos: eu, a mana e a nossa prima Paula, que morava com a minha avó para estudar, e lá estava a velhinha esperando com um chazinho quente e nos mandando ficar perto do fogão para passar o frio, somente depois íamos almoçar, pois ela defendia a   tese que se almoçássemos  com frio a comida iria ficar parada no estômago... Linda minha avó Jacy, sempre tão atenciosa...  Depois de todo este ritual íamos brincar de "Susi". Susis eram umas bonecas bonitas, no estilo Barbie, mas bem mais bonitas. Eu fui a última a ganhar a minha Susi, mas fiquei no lucro, a minha era articulada, dobrava os braços e pernas, mexia a cintura e as mãozinhas... um luxo... cabelos cacheados, louros e vestida com um logo branco para festa... Tudo de lindo! Chamava-se Tatiana... eu a ganhei no natal. Todas nós tínhamos uma Susi só e não uma profusão de bonecas semelhantes como as meninas de hoje tem; para que mais que uma, aquela que tínhamos tinha o privilégio de ser  a companheira  inseparável... e como brincávamos; fazíamos roupinhas, festinhas, comidinhas.
           Na casa da minha avó tinha um jardim interno muito bonito, com uma roseira de cachinhos com pequenas rosinhas amarelas, era linda; tinha uma flor que nós chamávamos de picolé, era lilás, muito diferente... Estranho como não foi só eu que cresci e mudei, as flores também mudaram; a muito tempo não vejo flores como aquelas, nem sinto o doce perfume das rosas na primavera... Ah! a primavera era intensa, cheirosa, florida, ouvia-se o canto dos pássaros, sentia-se o calor morninho do vento; era tudo muito diferente... Não sei... de repente foi eu que cresci e tudo isso era apenas a minha visão de criança... Pode ser, mas tenho a certeza que esta visão de saudade da infância não é só minha, ela esta presente na memória de muitos que buscam nos dia de chuva voltar ao passado e reviver lembranças tão doces.   


quinta-feira, 20 de junho de 2013

Uma história para crianças

         Hoje  é 20 de junho e tem início mais uma Semana do Município.

É a XXXVI Semana de Canguçu.

          A um tempo atrás, quando meu filho Gerônimo era pequeno, costumava pedir que eu contasse, na hora de dormir, histórias do tempo em que eu era pequena. Eu, que nem gosto de contar histórias, viajava no tempo, andava pelas ruas de um Canguçu da década de 70, relembrava casas...ruas inteiras,..., lembrando a fachada das casas...revivia pessoas... mas , com certeza, a história  que ele mais gostava, já demonstrando seu interesse pela alegria do carnaval, era quando eu comentava do carnaval de rua; ele dizia:-" Conta agora aquela dos bois do tio Arlindo", referindo-se aos bichos que o tio Arlindo Almeida, saudoso carnavalesco da nossa cidade, trazia para a General Osório (rua da frente), para realizar um alegre Carnaval de rua.  Tio Arlindo, funcionário público, homem simples, simpático, amigo, prestativo... Que falta fazes tio Arlindo para alegrar o nosso carnaval. 
           Mas voltando ao tema que me leva a escrever. Quando meu outro filho, Eduardo, manifestou interesse pelas história do passado antes de dormir, resolvi contar  de maneira diferente e a cada noite eu criava um pedacinho da  história do meu município , para que os dois conhecessem um pouco a História de Canguçu; ao final resultou na história para crianças que passo a contar agora. 

(Lembra-se que hoje a teoria que o nome do nosso município resulta da existência de uma espécie de onça existente em nossa terra já não é mais aceita, mas vale a simbologia... a onça está em nosso Brasão, e na minha opinião é lá que deve ficar )


A ONCINHA ACANGUAÇU


                     Era uma vez... Sim, era uma vez , porque toda história que se conta para   crianças começa assim.
                     Pois bem, era uma vez um livro que caiu de uma estante em certa biblioteca. O livro ao cair abriu-se e de suas páginas amareladas pelo tempo saiu uma luz brilhante, primeiro verde, depois amarela e por fim vermelha... elas dançaram e se misturaram e então se acomodaram, lindas  como bandeira desfraldada ao vento e ...espere ..., algo mais está se formando!!! O que será ??? Com pelo fofinho, com manchas escuras... é uma onça ... uma oncinha travessa que vendo-se livre do livro mágico, sim , esqueci de dizer que o  livro era mágico e a oncinha vendo-se finalmente livre das páginas encantadas, saltou alegre da luz e, manhosa apresentou-se:
                     - "Olá amiguinhos"!! Sou a oncinha Acanguaçu. Por anos vivi aprisionada no encantado mundo do livro mágico, porém, hoje alguém tirou o livro da estante e eu fiquei livre para contar a vocês histórias lindas do mundo em que vivo no encantado reino de Canguçu.
-         Quer ouvir?
                      Quando eu era uma oncinha pequenina ainda e andava livre pela grande mata, admirava a tribo de índios conhecida como "Tapes", eles  falavam uma língua estranha, o " guarani"; eu admirava a distancia  suas danças, sua vida junto a natureza, a beleza de sua pele, os seus cabelos, porém, eu tinha tanto medo deles, quanto eles tinham de mim.
                     Um dia eu andava distraída  quando derrepente... Ai!... , que susto, um indiozinho estava bem na minha frente , acabamos ficando amigos e ele me batizou de Acanguaçu, que na língua dele significava , entre outras definições "  Cabeça Grande ". O tempo foi passando e a nossa amizade era cada vez mais forte, até que um belo dia não vi mais meu amiguinho, fiquei triste, desolada, pois tu sabes pequenino que ter um amigo é muito importante. Pois bem, procurei meu amiguinho e não encontrei, custei a compreender que a página tinha virado e que para eu rever meu amiguinho, precisava começar a ler tudo novamente, mas a curiosidade pelo que havia nas outras páginas do livro me fizeram avançar para a próxima página e, quando espiei devagarinho, escondido na margem , pois havia vozes alteradas, dois homens bem diferentes dos índios brigavam; eu não entendia bem o motivo da briga, mas parece que os dois queriam ser donos do mesmo pedaço de terra, até que ouvi falarem em "Nossa Senhora da Conceição" ... Sim ouvi bem direitinho, e a briga acabou, porque eles resolveram doar a terra para  Nossa Senhora da Conceição, uma bonita Senhora, cheia de luz, e fizeram para ela morar uma casinha  branca, pequena, simples mas cheia de paz e, esta Senhora era tão boa, tão querida por todos naquele lugar que homens e mulheres deixaram suas casas e construíram moradas novas, próximas a  Daquela Senhora tão boa e, para deixa-la feliz plantaram flores, fizeram uma bonita praça em frente a sua casinha.
                     E assim o tempo foi passando, novas casas foram aparecendo e eu sempre admirando tudo o que acontecia naquela vila, sim, pois já chamavam o lugar de vila de Canguçu. Mas nem tudo era bonito, lembro que li em algumas páginas  que homens  que já eram chamados canguçuenses, pois haviam nascido ali, pegavam em armas e iam para a guerra, algumas até lembro o nome: "Guerra do Paraguai, Revolução Farroupilha, Revoluções de 1893 e de 1923. Eram tempos difíceis aqueles, mas os canguçuenses mostraram sua bravura e coragem, muitos voltaram, outros ficaram presos nestas páginas para sempre.
                 Lá ficou um amigo que conheci, " Capitão Henrique José Barbosa", felizmente não esqueceram dele e, lá no fim da história veremos que ele foi imortalizado no museu da cidade, onde trabalha esta nova amiga que abriu o livro e me ajuda a contar esta história para vocês.
               É gostoso relembrar tantas coisas que ficaram para trás. A vilinha foi crescendo entre os cerros, a rua principal, poeirenta, pois ainda não existia o calçamento, abrigava 2 praças centrais, uma enfrente a Igreja Matriz e outra duas quadras depois, esta acabou sendo engolida pelo progresso, desta menina que crescia e que, em 1938, passou a ser chamada de cidade.
         Naqueles dias mornos e tranquilos, as lavadeiras entregavam nas casas as roupas alvas e engomadas, carrocinhas passavam trazendo em cada porta o pão quentinho para o café, o leite para a criança , a água para o banho ... sim a água para o banho e para todo o consumo da casa, esqueci de contar que a água não vinha pelos canos e sim de vertentes naturais; três importantes cacimbas abasteciam de água a nossa cidade; uma ficava no cerro e duas outras na cidade, as cacimbas do Ouro e da Prata, isto eu descobri em um dia em que virei a página do livro e lá no fim de uma enorme ladeira , na beira de um lindo mato, uma reunião de pessoas em volta de uma construção arredondada parecendo um forno de pão...pois bem, as pessoas humildes conversavam e riam e juntavam água em vasilhas, uns colocavam em barris nas carrocinhas, outros em latas e saiam equilibrando-as na cabeça mas, para onde ia aquela gente,... fui atrás e vi que toda aquela água era vendida de porta em porta pelas ruas da cidade, a rua da frente a as duas ruas dos fundos, pois eram só as que existiam. Lembro também que carroceiros levavam nas casas a lenha para o fogão, sim, pois não existiam fogões a gás, e esta era atirada para dentro dos pátios pelos carroceiros que, caprichosos cortavam as achas de lenha todas do mesmo tamanho. Ai!! Ai!!...  Acho que fiquei muito tempo para a admirar este serviço que já não existe, pois acabo de levar uma acha de lenha entre minhas pequenas orelhas e, como dói!!
                O tempo passou e eu cada vez mais, maravilhada com todo aquele progresso que eu via nascer pois ainda lembrava claramente da aldeia dos índios do início da história. Andei pela rua, vi o povo se recolher e de repente... tudo ficou escuro, não entendi o porque; em outra noite sai e zás..., ficou tudo escuro de novo, ai compreendi que em determinada hora as luzes da cidade apagavam todas ao mesmo tempo e que se eu não quisesse ficar no escuro, teria que me recolher cedo. E assim se passaram vários e vários anos ou várias e várias páginas.
             O cinema reunia jovens, crianças e idosos, era o grande divertimento da época; primeiro era mudo, depois passou a ser falado, depois lentamente foi morrendo pois a televisão tomou o seu lugar. No clube haviam as partidas dançantes, onde homens e mulheres bonitos e bem vestidos dançavam ao som de bandas musicais como a Lira, a Santa Rosa e a Santa Cecília; hoje os divertimentos são outros.
              Ao virar uma das páginas, enchi meus olhos de oncinha com a beleza daquele cerro no fim da rua, que majestoso observava a minha cidade: era o Cerro da Liberdade, sim, da Liberdade pois lá foi dada a alforria a duas meninas escravas em homenagem aos canguçuenses que retornaram da Guerra do Paraguai. Mas, virei a página e já não vi mais o majestoso cerro, parece que o progresso também o engoliu.
                    
                Nesta nova página, fiquei fascinada por ver algo tão diferente, eu já conhecia o automóvel, pois no reino de Canguçu já haviam alguns, mas aquilo que eu vi era muito maior, andava sobre trilhos, e soltava fumaça... fiquei olhando, olhando e não resisti...pulei na janelinha e escondidinha admirei a paisagem, o vento batendo em meus bigodes e arrepiando meu pelinho...A viagem estava tão boa que dormi, quando acordei estava em um reino muito maior, fiquei sabendo que era Pelotas, fiquei assustada com todo movimento, porém, procurei me acalmar, pois nesta hora desespero não resolve, então ouvi alguém gritar.
                  -A Maria Fumaça voltará em breve para o reino encantado de Canguçu!!
                   Ufa!!! Que alívio, escondi-me novamente e quando menos esperei ela estava em movimento e eu, curiosa não perdi de admirar a bela paisagem até chegar em casa. Foi uma aventura e tanto.
                  Dormi uma ótima noite de sono, acomodada em meu solo canguçuense, quando acordei por páginas e páginas  vi grandes mudanças, minha cidade havia crescido muito, já não existia a mesma tranqüilidade, as luzes já não apagavam mais a meia noite, as aguateiras, as lavadeiras e engomadeiras haviam sumido, sim, já não havia mais lugar para elas nestas novas páginas, pois a água já era encanada e as máquinas de lavar, vendidas num comércio agora farto e gerador de muitos empregos tomaram seus lugares.
                   Surpresa mesmo eu tive quando vi que as notícias na minha cidade corriam rápidas, graças as duas rádios que surgiram, elas alegravam a vida de todos com músicas e também transmitiam as notícias com rapidez, ao lado delas surgiram os jornais, mas parece que os homens dessa terra não gostam de registrar os fatos que aqui ocorrem, pois os jornais normalmente são de curta duração. Em uma página vi um alegre carnaval nas ruas, com mascarados e bichos  enormes que encantavam a criançada, vi torneios de futebol entre os 3 times mais populares da cidade América, Cruzeiro e Canguçuense, vi o movimento tradicionalista que crescia, cultuando nossas raízes, vi tantas coisas nestas 150 páginas que folhei...
                  Mas vamos em frente, dei uma espiada nas últimas páginas que estavam escritas e vi muitas e muitas ruas que corriam em todos os sentidos, meus olhos buscaram em volta a tranqüilidade dos arroios correndo mansamente, o canto dos pássaros, as tardes de sesta  mas estas já não existem, minha cidade cresce muito, carros quebram o silêncio , as crianças já não brincam brincadeiras de roda, de carrinho nas decidas ou com bonecas de pano, elas agora jogam  jogos eletrônicos ou navegam na internet,  parecem adultos, tem opinião própria, e sabem desde pequenas o que querem para o futuro.
                Gostei de haver folhado o livro da história, relembrei tantas coisas, aprendi outras tantas, porém amiguinho, minha história não termina aqui, existem muitas páginas em branco no livro encantado que deverão ser escritas por ti , por  teus coleguinhas e todos aqueles que tiverem sensibilidade para registrar sua presença.
                  Agora preciso ir... alguém me chama... será a voz dos antepassados? Sim pode ser pois todos os que passaram pelo Reino Encantado de Canguçu ainda estão aqui, cada um preso na sua respectiva página, mas todos muito felizes porque o livro foi aberto e eu consegui mostrar para vocês esta história.
               Dizendo isto a oncinha, de um salto entrou no mosaico tricolor que pairava sobre a última página escrita do livro, no emaranhado de cores vermelha, verde e amarelas vi-a correndo feliz pelos campos e entrar na mata. As cores foram enfraquecendo e um hino se fez ouvir, era uma homenagem não  a minha amiga a quem os índios guaranis chamaram Acanguaçu, mas aquele reino encantado, bela joia de nosso país ... referiam-se aos heróis que tombaram neste chão as valorosas mulheres , o trigo que saciou nossa fome, hoje terra farta, bela, e em paz, que nos inspira o amor, a igualdade, a honradez, justiça e perfeição. Quando o hino  acabou senti uma saudade imensa daquele bichinho manhoso e fofinho que me contou toda esta história, depois entendi que ela era o coração do meu município e que estaria sempre comigo, mesmo que eu aqui já não estivesse pois sou e serei sempre canguçuense.
               O livro mágico não voltou mais para a estante e continua aberto convidado a todos para aqui registrarem a sua presença nesta história.
                    Venha... seja um grande homem, uma grande mulher... ou seja simplesmente um canguçuense honrado, que ama sua terra e que tudo fará para vê-la crescer com harmonia e paz.


Autoria de Miriam Zuleica Reyes Barbosa- escrita em 2007 nos 150 anos de Canguçu.

Parabéns meu Canguçu pelos teus 156 anos de uma bela e valiosa história!

domingo, 9 de junho de 2013

O tempo passa...

       Hoje recebi uma visita que resultou em uma saudade muito gostosa de minha infância. Logo pela manhã visitou minha casa o querido amigo Álvaro Luiz Amaral, o Alvinho; colega desde a Pré-escola, vizinho, companheiro de travessuras quando crianças.

    Relembramos muitos momento felizes da infância. Lembramos quando ele gineteava, montado em uma abóbora de pescoço que meu pai havia trazido de fora, enquanto minha tia Zifa e a  Sera (Serafina) conversavam animadas e eu, aos tapas, queria que ele saísse de cima da abóbora para não estragar. Lembrei de um aniversário dele em que havia um parquinho ou circo montado em cima do bolo; eu muito encabulada pois estava na casa da diretora da minha escola ( Grupo Escolar Irmãos Andradas) e não podia fazer feio. Nesta mesma festa minha mãe e a dona Zelinha, sentadas em um sofá grande de cor clara, faziam planos para o nosso baile de debutantes ( meu e da Raquel, outra querida amiga, que embora more em frente a minha casa, quase não nos vemos, o que lastimo muito, pois tenho por ela uma grande amizade... é a falta de tempo).

    Lembramos de toda a molecada da quadra, dos brinquedos na fábrica de fumos do Sr. Macóta ( Fábrica de Fumos XIRU), quando correndo em fila, atravessávamos a fábrica para nos atirarmos nas folhas de fumo que ficavam no pátio, (acho que para secar) logo depois de uma porta alta por onde nos atirávamos; aquilo era uma diversão, saiamos de lá sujos, cheirando a fumo mas felizes por podermos realizar uma brincadeira, a nosso ver, tão gostosa. Nunca ouvimos do Sr. Macóta qualquer repreensão ou pedido para que saíssemos de lá. Era um tempo diferente aquele; acredito que hoje ninguém gostaria que uma turma de mais de 10 crianças invadissem uma fábrica para brincar, mesmo que o filho do dono estivesse brincando junto.

      Conversamos muito, lembramos muitas travessura, mas quando ele foi embora fiquei com aquele sentimento estranho,  aquela lembrança gostosa, aquela saudade que aperta o coração. Lembrei da dona Neuza, querida, elegante, sempre com suas saias justas e casaquinho, vestia-se sempre com elegância. Pois bem... dona Neuza... seus casaquinhos e saias justas, seus sapatos de salto e sua simpatia. Incrível como o Alvinho se parece com ela, a mesma cor, os olhos vivos, inteligentes, o cabelo escuro e crespo, a mesma alegria... Saudades dona Neuza, tão querida... Dona Ida Duarte e ela eram grandes amigas lembro delas sempre juntas. 
       Quando eu era adolescente trabalhei no Salão de Beleza da Marilaine, como manicure, fazia as unhas das duas amigas todas as semanas. A dona Neuza pintava sempre com a mesma cor  “Zazá” da Colorama; era uma cor lilás, e eu tinha que ter sempre, pois ela não trocava a cor.  Boas lembranças... Eu gosto de sentir esta saudade que aperta o peito, porque elas me trazem estas pessoas queridas para perto, me lembra que viver é muito importante e, que tanto estamos aqui, como já estamos em outro plano... Que bom quando também lembrarem de nós e sentirem esta saudade que dói no peito, sinal que deixamos boas lembranças.



                   Neuza Paes do Amaral

           Diretora do Grupo Escolar Irmãos Andradas 







          Foto: Arquivo fotográfico do Museu Municipal 
                   Capitão Henrique José Barbosa

domingo, 21 de abril de 2013

O cinema falado em Canguçu



                Com o término do cinema mudo, vez por outra aparecia em Canguçu caminhonetes da Bayer, que vendiam medicamentos e  montavam cinemas ao ar livre.
                Depois de algum tempo sem cinema, Canguçu ganhou o moderno Cine Teatro Glória, construído por Antônio Lelis Valente (Antonico Valente) e que foi explorado inicialmente pelos sócios Victor Petrucci, comerciante e Pompílio Freitas dono do  Globo Hotel.
                O cinema foi inaugurado em 1939
, ano do início da 2ª Grande  Guerra. O filme inaugural foi Brodway Melody 1938. O operador inicial foi Guilherme Soares, funcionário da Prefeitura Municipal e genro de Antônio Coutinho que fora operador do cinema mudo.  Foram adquiridas poltronas novas para as laterais, as do centro eram as antigas  do cinema mudo, por sinal bem mais confortáveis que as novas.
                Em 07 de maio de 1940 foi inaugurado o pano de boca do cinema, que foi pintado pelo ventríloquo Acy Portela ídolo dos meninos da época.
                O início das sessões nas quartas, sábados e domingos era dado por toques de sirene que eram ouvidos de longas distâncias. Eram colocados cartazes na frente do cinema e Santos Pereira, com um megafone anunciava as sessões nas esquinas da rua General Osório.
                Como no cinema mudo existiu na geral um frequentador que lia em voz alta para a galera analfabeta, as legendas do filme, perturbando os demais.
                   Com o advento da televisão o Cinema foi fechado.
                Sem dúvida, o cinema falado foi uma grande janela para o mundo e fonte de desenvolvimento cultural. Foi para muitos uma diversão fundamental e aguardada com ansiedade. Guri, lembro de um filme tenebroso chamado “A carroça da morte”, passado num país eslavo. Quando se aproximava a morte de alguém, este ouvia o rangido infernal dos eixos da carroça com as rodas, que aumentava na medida em que se aproximava do candidato ao outro mundo. Nenhum guri dormiu naquela noite de medo do terror que a carroça deixou em quem assistiu  ao filme.
                Não se pode deixar de fazer referência aos circos que passaram por Canguçu que davam entrada grátis as crianças que percorriam as ruas atrás do palhaço, montado num cavalo voltado para trás que fazia as seguintes perguntas que as crianças respondiam em festa:
                - O palhaço o que é?                         - É ladrão de mulher!
                - Hoje tem patuscada?                      -Tem sim senhor!
                - E quem leva a namorada?             - Não paga nada!

                E prosseguiam as perguntas que eram respondidas em coro atraindo as pessoas para fora da casas. Foram muitos influenciados pelo circo, entre eles Osmar Telesca e Babá (filho de Samuel Pinho Almeida) que chegaram a montar um circo infantil.
               
(Fonte: Revista dos 200 anos de Canguçu - ACANDHIS)

Cine Teatro Glória
Arquivo fotográfico - Museu Municipal Cap. Henrique José Barbosa


            Hoje, pensando sobre o que postar no blog,  lembrei  do Cine Glória, das matines aos domingos, dos encontros com a turma ... lembrei dos filmes...muitos repetidos, mas isto não importava, lembrei com carinho do meu avô  Tacico que adorava os filmes do Teixeirinha e sempre que estava em cartaz ele nos levava. Lembro especialmente de um filme " Lúcio Flávio, o passageiro da agonia",  era um filme proibido para menores e nós ( as gurias da turma) nos maquiamos fizemos penteados para parecer mais velhas fomos ao cinema;  acho que era o Jarbas Moreira quem estava recebendo as entradas e é  claro que nos reconheceu, afinal íamos todos os finais de semana no cinema, mas nos deixou entrar.  Saímos antes do filme terminar apavoradas com tudo, com a crueldade, com a pornografia e tudo o mais, mas o pior era passar pelo porteiro... envergonhadíssimas!!!  Juramos nunca mais ir quando o filme fosse proibido, não queríamos pagar outro mico. 
         Sempre, antes do filme começar apresentados os gols da seleção brasileira com aquela inesquecível musica da Copa de 70; quem ouvia da rua, sabia que a sessão de cinema já ia começar.
               Nesta época eram donos do cinema os senhores Antoninho e Júlio Valente e quem vendia as entradas era a Ilca, uma senhora que trabalhou vários anos na loja do Sr. Júlio Valente. Claro... não posso esquecer o nosso pipoqueiro, o Miné que vendia pipoca e doces na frente do cinema.
Ótimo lembrar tudo isso e rever na memória tantos momentos especiais e pessoas tão queridas.


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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Novamente é Carnaval

Falar de Carnaval, em época de Carnaval parece fácil, mas não é ... Para quem é amante desta festa que retrata em sua essência o povo brasileiro, que mostra esta cultura tão particularmente nossa, tão vibrante, miscigenada... É algo que está no sangue, na alma, não se explica e não se entende... Dificilmente um brasileiro é indiferente ao samba, este ritmo tão envolvente e, quando ouve o som do surdo, da cuíca e do pandeiro, deixa a seriedade de lado. Em fevereiro o brasileiro sente e pensa carnaval - " Quero mais é sambar, recarregar energias, esquecer problemas, decepções e frustrações e dar de cara na festa...sambar, brincar e pular, até que chegue a quarta-feira e, como o palhaço que sai da caixa surpresa, voltar com cara de saudade para só sair novamente no próximo carnaval. Isto tudo é mágico e só percebe, aquele que tem dentro de si o sentimento carnavalesco,  que é contagiante.

Digo que não é fácil falar de Carnaval, quando ele se mostra tão diferente na minha Canguçu, pois já tivemos um Carnaval de Salão empolgante, envolvente, alegre, cheio de vida. Quem brincou o Carnaval no Salão do Harmonia até a final da década de 90, sabe do que estou falando; o novo século chegou, cheio de novidades mas o que se foi,  levou com ele a magia do Carnaval Canguçuense.

Fazer o que???
Aceitar que cumpriu-se o velho ditado...

“TUDO QUE É BOM SE TERMINA”

Me resta a lembrança ... Este tesouro tão precioso que me traz de volta momentos tão felizes.

Sempre fui a Carnaval. Minha mãe confeccionava nossas fantasias, minha e de minha irmã, e após nos arrumarmos para o Carnaval infantil tinha a sessão fotografia, era então chamado o eterno fotógrafo canguçuense, Sr. Egídio Camargo, que tirava as fotos em casa ou no seu ateliê e, lá íamos nós nos divertir no carnaval de salão do Harmonia.

Minha primeira curiosidade com relação ao Carnaval foi no ano em que a Mirinha ( Miriam Scherer Bento) foi Rainha do Harmonia, ano de 197... e alguma coisa que, no momento não lembro exatamente. Meu tio Beto, falou em ir ao Grito de Carnaval, indaguei o que era e ele como sempre me passou para traz numa resposta boba; me disse que todos iam para o Clube Harmonia e gritavam até clarear o dia, depois no sábado após o carnaval iam ao enterro dos ossos, e eu não entendia de quem era o enterro e de quem eram os ossos. Parece mentira mas realmente tinha isto tudo eu também participei de muitos e animados “ Grito de Carnaval” no sábado que antecedia os 4 bailes de salão. No “Grito” a gente ia mascarado, a fantasia só era usada no carnaval, era uma preparação para a festa que viria...

Que preparação!!!              Que festa!!!

No Clube Harmonia a alegria de blocos tradicionais, formados por casais : Sacarrolha , dos queridos amigos Zé Carlos e Luiza, Neizinho Otto e Rosa, Cleusa e Clóvis Garcia e tantos outros; O Rebu, As Bruxas, lindo, sempre, era  o Cordão do Amor, O ET , Los Tarados( bastante polêmico) Tai, Os Bugres (Bloco só de meninos) Os Maconeiros (idem) , e outros tantos que no momento não lembro, houve ano em que passaram mais de 60 blocos nos Salão do Harmonia... É claro que para mim o melhor e o que me deixou mais saudade foi o nosso “Deixa Falar”, bloco animado que fez nossa alegria por 10 Carnavais.

O Rei Momo Salazar chegou a compor uma música para o Carnaval de Canguçu. Se a memória não me abandonar vou escrevê-la para vocês:

“Carnaval em Canguçu
É festa pra todo povo
Quem aqui vem uma vez
Voltará sempre de novo.
Pula, Pula , Pula que eu que sambar!
Pula, Pula , Pula que eu que sambar!
A festa estava boa
E você apareceu
Vamos pular até a rua
Eu você, você e eu!

( Peço desculpas ao Salazar se a memória me traiu e esqueci ou mudei alguma coisa)

Na noite de segunda feira, tinha o concurso dos blocos e fantasias, era muito bom, depois terminaram-se os desfiles no salão e os blocos passaram a desfilar na rua, nosso Deixa Falar foi por 3 anos o campeão do Carnaval de Canguçu.A terceira noite era também de visita,quando a Rainha e sua corte visitava o Clube América e trazia a Rainha e a corte do América para o Harmonia, isto tudo acontecia porque na época existia uma separação entre os dois clubes, porém, embora com esta visível separação, sempre houve uma relação de respeito e amizade entre os integrantes dos dois clubes.

E o carnaval de rua... animado, cheio de mascarados, de homens vestidos de mulher.
Lembro o querido tio Arlindo, com sua simplicidade, a frente do bloco dos bichos, com entusiasmo juvenil incentivava a todos para que seguissem o bloco e fizessem a festa; lembro também o bloco do seu Manuel, este também saia às ruas, porém  não tinha os bichos,este bloco parece que era formado por integrantes da Vila Isabel..
Tudo era muito lindo, muito alegre e os bailes do Harmonia abriam suas portas para os foliões de toda a região.

A festa era animada e esta juventude que sai de Canguçu para fazer a festa nas cidades vizinhas nem imagina o privilégio que os seus pais tiveram em brincar nos grandes Carnavais da nossa amada Canguçu.

Bloco Deixa Falar  - 1989
 " No carnaval todas as culturas se irmanam, 
todas as artes se carnavalizam".
Bloco Deixa falar - 1993 "Os caras pintadas "
Bloco Carnavalesco Deixa Falar - 1995