Em dias chuvosos como hoje, gosto de ler, de abrir o baú das lembranças, dar asas a imaginação, gosto de relembrar , de voltar no tempo e rever imagens, histórias e pessoas. Hoje lendo o que escreveu uma querida amiga, Céres da Rosa Goularte em seu livro "Pálidos traços da História de Cangussu", sobre a sociedade canguçuense nas primeiras décadas do século XX:
"Os cangussuenses sempre souberam viver em sociedade, à moda vigente trajar-se e cultivavam a cultura."
"No tempo em que a moda era ditada para o mundo por Paris, os figurinos e a competência das profissionais garantiam o bem vestir da sociedade. Quando da visita de pessoas ilustres, como aquelas que se destacavam na política, ou mesmo simples visitantes de posição, ninguém fazia feio nas festas ou solenidades..."
Continuando: "Os alfaiates confeccionavam as roupas masculinas. As camisas eram brancas, de punhos e colarinhos muito bem engomados, trabalho cuidado pelas lavadeiras e passadeiras, com o devido esmero..."
E ainda: "As roupas femininas eram feitas em sua totalidade, pelas costureiras. Eram exímias em sua profissão e trabalhavam muito...
... "As costureiras observavam com aptidão e bom gosto os modelos, medidas exatas, acabamento esmerado. Incluiam as roupas de passeio e as destinadas as festas, mais simples ou mais sofisticadas. Desde os primórdios foi assim."
... "Os homens e as mulheres brilhavam nas festas. As aguateiras garantiam o banho das famílias e as costureiras encarregavam-se do aspecto exterior. Era uma vida difícil, não resta a menor dúvida mas o povo vivia bem e amava o seu chão natal. Se o começo da vida em Cangussu foi difícil, foi também, nobre, valoroso, forte e bonito."
Retirado do livro - Pálidos traços da História de Cangussu ( págs 17 -20 ) de autoria de Céres da Rosa Goularte
"Os cangussuenses sempre souberam viver em sociedade, à moda vigente trajar-se e cultivavam a cultura."
"No tempo em que a moda era ditada para o mundo por Paris, os figurinos e a competência das profissionais garantiam o bem vestir da sociedade. Quando da visita de pessoas ilustres, como aquelas que se destacavam na política, ou mesmo simples visitantes de posição, ninguém fazia feio nas festas ou solenidades..."
Continuando: "Os alfaiates confeccionavam as roupas masculinas. As camisas eram brancas, de punhos e colarinhos muito bem engomados, trabalho cuidado pelas lavadeiras e passadeiras, com o devido esmero..."
E ainda: "As roupas femininas eram feitas em sua totalidade, pelas costureiras. Eram exímias em sua profissão e trabalhavam muito...
... "As costureiras observavam com aptidão e bom gosto os modelos, medidas exatas, acabamento esmerado. Incluiam as roupas de passeio e as destinadas as festas, mais simples ou mais sofisticadas. Desde os primórdios foi assim."
... "Os homens e as mulheres brilhavam nas festas. As aguateiras garantiam o banho das famílias e as costureiras encarregavam-se do aspecto exterior. Era uma vida difícil, não resta a menor dúvida mas o povo vivia bem e amava o seu chão natal. Se o começo da vida em Cangussu foi difícil, foi também, nobre, valoroso, forte e bonito."
Retirado do livro - Pálidos traços da História de Cangussu ( págs 17 -20 ) de autoria de Céres da Rosa Goularte
Depois de ler estas páginas, fechei os olhos e com saudades lembrei de Dona Quinotinha Mattos ( se não me engano seu nome era Joaquina), mãe do professor Joé Mattos. Era costureira e uma figura realmente inesquecível, pois seus traços, sua personalidade e sua estatura eram marcantes... Era pequena, muito miúda, parecia pouco maior que eu no tempo que estou lembrando ( na época eu deveria ter 7 anos ) sempre bem arrumada, saias justas e sapatos de salto. Lembro de vê-la com uma saia xadrezinho de preto, cinza e branco e camisa branca de jabot, mas o que mais me chamava a atenção eram seus sapatos, muito pequenos, pareciam de criança, acho que ela calçava o número 33.
Sua casa ainda existe, e se localiza quase em frente a minha casa; Era uma casa escura com granitina ( não sei dizer o que era, mas era assim que chamavam aquelas casas com reboco escuro e com um certo brilho). A fachada tinha duas janelas e uma porta central, na peça da esquerda era o seu ateliê de costura, lembro de uma mesa quadrada, daquelas pesadas e com duas hastes de cada lado e quando abertas sustentavam duas outras partes ( chamavam de folhas) ficando a mesa, assim, com o dobro do tamanho, os banquinhos pintados de branco, duas máquinas de costura daquelas pretas, antigas, de pedal, onde ela confeccionava os modelos escolhidos pelas freguesas; os figurinos ficavam empilhados em cima de uma mesinha no seu quarto que era separado da sala de costura por um guarda-roupas com flores entalhadas na porta. Lembro ainda de um cesto próximo da mesa onde ela guardava os retalhos que sobravam. Eu gostava de sentar embaixo da mesa, fazendo roupinhas para as minhas bonecas com os paninhos que ela me dava.
Dona Quinotinha costurava muito e minha avó Jacy às vezes ajudava fazendo bainhas e alinhavos; lembro de trabalharem com ela a Maria Marques e a Marfa , que depois casou com o Sr. Hélio Mattos ( ele era irmão da Dona Maria, Mozinha e Geraldo Mattos que, se eu não me engano, eram filhos do primeiro casamento do marido da dona Quinotinha. Eu não conheci o pai do professor Joé).
Na janela da direita era o quarto das penssionistas, meninas que vinham do interior para estudar na cidade, entre elas lembro da Céres e da Inês.
Dona Quinotinha andava sempre com um molho de chaves em uma argolinha, pendurada no cinto; era uma figura diferente seu rosto tinha fortes marcas de expressão, seu cabelo curto era escuro e seu rosto era emoldurado por óculos de armação preta.
Lembro da casa, da costureira, da tesoura de cortar costuras ( daquelas grandes pretas e pesadas), lembro também de algumas freguesas, entre elas eu admirava a Dona Yonne Bento, sempre elegante, bem vestida, com aqueles sapatos de saltos muito altos ( como até hoje).
Minha mãe sempre dizia: “- Dona Quinotinha é ótima costureira, porém, nunca faz o modelo que a gente escolhe, sempre diz – “Mudei porque este te senta melhor”.
Sua casa ainda existe, e se localiza quase em frente a minha casa; Era uma casa escura com granitina ( não sei dizer o que era, mas era assim que chamavam aquelas casas com reboco escuro e com um certo brilho). A fachada tinha duas janelas e uma porta central, na peça da esquerda era o seu ateliê de costura, lembro de uma mesa quadrada, daquelas pesadas e com duas hastes de cada lado e quando abertas sustentavam duas outras partes ( chamavam de folhas) ficando a mesa, assim, com o dobro do tamanho, os banquinhos pintados de branco, duas máquinas de costura daquelas pretas, antigas, de pedal, onde ela confeccionava os modelos escolhidos pelas freguesas; os figurinos ficavam empilhados em cima de uma mesinha no seu quarto que era separado da sala de costura por um guarda-roupas com flores entalhadas na porta. Lembro ainda de um cesto próximo da mesa onde ela guardava os retalhos que sobravam. Eu gostava de sentar embaixo da mesa, fazendo roupinhas para as minhas bonecas com os paninhos que ela me dava.
Dona Quinotinha costurava muito e minha avó Jacy às vezes ajudava fazendo bainhas e alinhavos; lembro de trabalharem com ela a Maria Marques e a Marfa , que depois casou com o Sr. Hélio Mattos ( ele era irmão da Dona Maria, Mozinha e Geraldo Mattos que, se eu não me engano, eram filhos do primeiro casamento do marido da dona Quinotinha. Eu não conheci o pai do professor Joé).
Na janela da direita era o quarto das penssionistas, meninas que vinham do interior para estudar na cidade, entre elas lembro da Céres e da Inês.
Dona Quinotinha andava sempre com um molho de chaves em uma argolinha, pendurada no cinto; era uma figura diferente seu rosto tinha fortes marcas de expressão, seu cabelo curto era escuro e seu rosto era emoldurado por óculos de armação preta.
Lembro da casa, da costureira, da tesoura de cortar costuras ( daquelas grandes pretas e pesadas), lembro também de algumas freguesas, entre elas eu admirava a Dona Yonne Bento, sempre elegante, bem vestida, com aqueles sapatos de saltos muito altos ( como até hoje).
Minha mãe sempre dizia: “- Dona Quinotinha é ótima costureira, porém, nunca faz o modelo que a gente escolhe, sempre diz – “Mudei porque este te senta melhor”.
Saudades Dona Quinotinha! Desejo que esteja bem onde estiver.
Moças da sociedade canguçuense, com certeza usando modelos confeccionados pelas mãos habilidosas de nossas costureiras do passado.
Foto: Arquivo fotográfico do Museu Municipal Capitão Hnrique José Barbosa
Só mais uma lembrança: Minha amiga, Marlene Coelho, dizia: "_ Depois que as mulheres passaram a usar tênis e calças Jeans, perderam a elegância". Acho que ela tinha razão!
6 comentários:
Que linda lembrança, excelente trabalho, q trazes até nós essas ricas histórias. Parabéns!!
Parabéns professora, lindo seu trabalho!!!!
Parabéns pelo teu trabalho e obrigada por me trasportar ao passado, me levar até o atelier de costuras da d. Quinotinha, que muitos vestidos fez para minha mãe e até mesmo para mim.
bitaquinha fostes perfeita na tua explanaçao lembrei d cada detalhe da sala da dona Quinotinha . lembro de Marlene quando eu fazia seus cabelos,
dela fazer esse comentario sobre o tenis. E tu querida sempre perfeita no q explica t amo.
Parabéns pelo comentario, e é sempre bom saber que existem ainda pessoas que prezam pela historia da nossa querida Canguçu! Felicidade e um grande abraço de seu Aluno Renê. Renê F Avila - Caxias do Sul RS
Parabéns pelo post e pela lembrança deste livro da sra. Céres, que li quando pequeno. Hoje estava em busca do autor de tal livro, buscando em anotações antigas, e achei essa menção em seu Blog. Atualmente sou advogado e resido em Pelotas.
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