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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Boas lembranças


31.10.1952


Arquivo: Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa


Acho especial trabalhar, conviver com amigos, aprender coisas novas, descobrir coisas perdidas no tempo, na memória das pessoas, coisas não lembradas a muitos e muitos anos, consideradas sem valor para o mundo exterior, mas de grande valor para quem guarda com carinho no baú das lembranças.



Assim era meu trabalho no Museu Histórico Capitão Henrique José Barbosa. Guardar história, ouvir lembranças, valorizar pessoas, escutar... escutar o que os outros já não tem tempo para ouvir... Viajar junto, voltar no tempo, ir para o passado, dar gostosas risadas com fatos tão pitorescos; chorar... chorar por alguém que foi lembrado, por algum fato triste acontecido, sentir pena, sentir saudade, sentir felicidade, sentir a nostalgia do que foi e nunca mais irá retornar, virar páginas todos os dias, pois cada dia que passa já entra para a história de nossas vidas.



Tenho saudade de mexer nos velhos livros, nas velhas fotografias, nos velhos objetos, muitos tão delicados, mas só quem realmente os ama, consegue ver sua beleza, pois ela não está aparente para olhos comuns, ela só é evidente para os olhos de quem busca além do que está expresso na matéria, a marca que traz impressa a quem pertenceu.



Gostava de ler cartas antigas, cartões postais... Ficava encantada com o traçado das letras, verdadeira arte, mostrando a tranquilidade que vivia-se no passado, podendo dar atenção a mínimos detalhes, como não borrar uma folha escrevendo com caneta bico de pena... passar o mata-borrão, esperar a tinta secar, cuidadosamente dobrar, colocar o sinete e depois enviar por um mensageiro. Tudo isso é muito especial e não pode jamais ser esquecido, para não corrermos o risco de sermos somente seres do futuro, que incapazes de criar, de expressar sentimentos, buscamos na internet mensagens lindas que alguém criou ( totalmente impessoais), e mandamos para nossos amigos querendo fazer crer que aquilo que estamos mandando é o que realmente pensamos ou sentimos.



Enfim... tantas coisas boas para lembrar dos doze anos que trabalhei dentro daquela casa. Aprendi muita coisa, principalmente a valorizar lembranças; gosto mais desta parte do que guardar o que é material. Fiz grandes amigos... aqueles que somente se faz trabalhamos em lugares como este; entre eles guardo com carinho a lembrança do meu amigo de museu "Waldemar Fonseca" , chegava sempre pela manhã, colocava a cadeira a meu lado e dizia:- "Traz de lá as fotografia"... eu trazia e assim passavamos a manhã. Ele tinha uma memória extraordinária, cada foto lhe lembrava o episódio que passava a contar com detalhes. Amigo querido, ainda bem que quando foi despedir-se de mim eu não estava, pois não gostaria de ter na memória esta lembrança triste... Deixou dito apenas que tinha ido dizer adeus, que não voltaria mais... e não voltou. Outro grande amigo de museu foi o "Dr. Amilton Valente da Silveira", incentivador, sempre elogiando tudo que era feito, sempre procurando contribuir com o que sabia, sempre procurando algo novo dentro do que já era velho.



Prometi a Marlene que cuidaria do museu e cumpri enquanto foi possível. Espero amiga que hoje busques vôos mais alto e deixe o que é material para aqueles que ainda estão na matéria. Sei que era teu sonho, teu projeto de vida mas... o que fazer ?? Sinto muito!



Meu desejo é que o museu Capitão Henrique José Barbosa seja como a Fênix !!!