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segunda-feira, 15 de junho de 2015

Muito frio na terrinha!

Hoje o frio é intenso na nossa Canguçu.
            Como diziam os antigos... Está de renguear cusco. Temos agora 9º, mas a sensação térmica é muito mais baixa. Penso na geada que me espera amanhã ao sair para o trabalho,  antes da 7 horas.
Mas vamos ao que a nossa história registra.

              Na manhã do dia 17 de setembro, foi encontrado morto, na estrada geral da Coronilha, a uma légua distante da vila, o preto Adolpho Hippolyto Oliveira, de avançada idade.
              Saindo o infeliz, da residência do cidadão João Pinto, devido a chuva e  temporal que caiu a noite, não pode vencer  a distância e chegar a casa mais próxima da estrada e, ficando assim exposto ao rigoroso frio, veio a sucumbir congelado. Para o local segui a autoridade competente, que depois de mandar proceder o auto do corpo de delito e mais formalidades do estilo, mandou sepultar do infeliz "Pai Adolpho", como lhe chamavam as crianças daqui, de quem ele foi um verdadeiro espantalho.
                Tinha 100 anos presumíveis. O óbito foi verificado pelo médico, cidadão Lino Moraes.

Fonte: Diário Popular de 05.10.1905

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Uma antiga casa comercial de Canguçu- Casa Brasil

Mais um dia de chuva na terrinha...
        Sempre que chove lembro de escrever...Sendo assim, aqui estamos escrevendo, relembrando, registrando...
           A algum tempo, publiquei no Facebook sobre o fechamento de uma das casas comerciais mais antigas da cidade, a Casa Brasil. Hoje trouxe o texto para o conhecimento dos amigos.  
         Assim eu escrevi a um tempo atrás.

     " Sabe  quando algo está prestes a acontecer  e tu antecipadamente  já sabe que sentirá falta, pois bem, hoje fiquei sabendo que a Casa Brasil  irá fechar suas portas; nada mais natural pois a todo momento novas lojas abrem suas portas, enquanto outras as fecham. Seria muito natural e apenas mais uma casa comercial a sair de cena, não fosse a história que carrega, pois esta loja a mais de meio século oferece seus produtos a comunidade canguçuense; é do  tempo em que as pessoas iam nas lojas comprar alguns metros de” fazenda” para que as “modistas” confeccionassem os vestidos iguais aos dos figurinos,  revistas que  encantavam  o público feminino e que hoje nem se vê mais, para falar a verdade nem sei se ainda existem".

            Relembrando...

 Me vejo pequena ainda,  a caminhar de mãos dadas com minha como mãe pelas ruas de um Canguçu tranquilo, onde quase não há carros e o comércio não era  tão intenso como o de hoje;  lembro de  algumas lojas apenas: a Casa Santo Antônio do Sr.  Julinho Valente, a do Sr. Candinho, Esquina Modas, a Casa Paulista do Sr. Lourenço, a Casa Norma de Dario Jacondino, tinha ainda as lojas dos “Turcos”:  Esperança de Ernani Abdala, Casas Cairo e Boa Sorte, o nome de seus donos eu não lembro mas de suas fisionomias eu não esqueço; tinha ainda os bazares, Estrela do Pompeu e Sinuelo, do Jaime. Eram essas as lojas da rua da frente ...  Ah! Ia esquecendo, subindo a Vinte de Setembro  tinha  a Casa Brito do Sr. Gonçalino Brito, lembro dele também... 
Pois bem, a qualquer  momento minha mãe  me dirá que precisa chegar no seu Manuel para comprar alguma coisa... A loja do seu Manoel , era justamente a Casa Brasil, de propriedade do Sr. Manuel Filgueiras e da dona Candinha Telesca... Quanto tempo se passou entre a fundação desta casa comercial e o dia de hoje quando ela está prestes a fechar... Quantas histórias de alegrias e de  tristezas, de renovações, de conquistas e  com certeza de INCERTEZAS esta loja presenciou...
        Mas deixa  eu voltar ao passeio com minha mãe... Eu adorava sair com ela, tanto quanto estou adorando este momento de lembrar dela... Pois bem, dito e feito... chegamos  na Casa Brasil, esta era parada obrigatória, sempre havia o que comprar: linha, botões, agulha de crochê, alguns metros de fazenda, ou mesmo olhar algum sapato, casaco, qualquer coisa pois tinha de tudo que se  possa imaginar.  Entramos por uma da portas... sim por uma das portas, pois se não me engano haviam duas ou três portas de entrada na loja.
A casa era grande, com a fachada de granitina, não sei o que é isso, mas lembro que era assim que chamavam aquelas casas escuras que tinham um brilho que lembravam pequenos vidrinhos cintilantes. Lá dentro haviam grandes balcões de tábua, na cor natural,  algumas partes tinham vidros, por onde enxergava-se as mercadoria do tipo rendas, fitas, elásticos, botões, etc... nas paredes haviam muitas prateleiras, também com muitas mercadoria e haviam ainda caixas grandes com cobertores, acolchoados e tantas coisas mais, a loja era realmente muito cheia de mercadorias... Havia na parede do fundo uma porta que imagino que ia para a casa ou para o hotel. Lembro  do Sr. Manuel Filgueiras, era , moreno, usava bigodes , acho que também atendia na loja;  nesta época não lembro  da dona Candinha, talvez ela se envolvesse mais com o hotel Brasil, que também era da família.
Quando o seu Manuel  morreu, a loja sofreu grande transformação. O Ubiratã, filho do casal, modernizou-a,  construiu uma nova loja, ampla, clara, moderna para os padrões de Canguçu... Lembro dele tão feliz com a loja nova, fazendo o cadastro dos clientes, pois até então era costume nas lojas locais anotar as compras em cadernos. Pouco depois,  sem que se pudesse imaginar, o  Ubiratã também se se foi... Ficou apenas dona Candinha. Gosto muito dela, é uma  mulher admirável, a mim parece que ela  continuou com a loja para poder viver o sonho do filho e levar a diante o seu projeto.
            Mas é isso... Quando o hotel e a  loja fecharem as portas, quando pintarem sua fachada e apagarem de vez o nome “ Casa Brasil ”, com certeza  poderemos dizer que lá se vai mais um tanto de  nossa história...
            Lamentável esquecimento...

           Ao mencionar os comércios de que tenho lembrança, esqueci a tradicional Casa São Pedro, pertencente ao Sr. Fernando Moreira. Esta era uma loja mais ampla, arejada; os balcões ficavam do lado direito da porta e ao fundo, uma escrivaninha onde ficava o caixa... Tinha uma cadeira em frente a mesa... Uma comodidade, pois podíamos fazer o pagamento sentados. Passava-se uma porta e havia outra peça, esta quase vazia e se não me engano com um cofre nela... Ah! e uma porta de duas folhas de onde vinha dona Nilza, baixa, cabelos castanhos, olhos vivos e muito falante... Seu Fernando, alto magro, gentil, sempre sorria para as pessoas que entravam na loja.
         Vou aproveitar  a oportunidade para registrar o lugar onde eu mais gostava de ir, na livraria Mundial da dona Tereza e do Sr. Sinotti... Lá era o paraíso... Tinha gibis, revistas com bonequinhos de recortar e colocar roupinhas e muitas outras coisas que faziam  a alegria das crianças; eu adorava ir lá. Depois que fiquei adolescente, ia lá comprar fotonovelas e romances de bolso, enquanto minha amiga Bete comprava "Medicina e Saúde"... Eu achava aquelas revistas um saco, mas enfim, hoje a Bete é médica e eu professora de Historia, o que prova que desde aquela época já sabíamos o que realmente gostávamos. 
         A livraria Mundial funcionava onde hoje é a Sulpar, do lado esquerdo a livraria da dona Tereza e do lado direito a loja de materiais elétricos e hidráulicos do Sr. Fernando Sinotti. Lá o meu querido tiozinho Beto comprou uma boneca bonita, vestida de vermelho, e me deu de Natal.
         Os dias se passaram, hoje é 05 de junho; não sei quando escrevi este relato, mas de lá para cá, a roda da vida já girou e a Casa Brasil realmente fechou suas portas. Dona Candinha também fechou seus olhos para a vida terrena e hoje já se encontra no mundo espiritual. Espero sinceramente que Deus, na sua bondade infinita, tenha permitido que ela fosse recepcionada pelo seu filho Ubiratã.




Foto: Arquivo  fotográfico do Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa


Fotografia tirada em 1945 em frente ao prédio da  antiga Casa Brasil, na época Hotel  Brasil.

Registra a festa oferecida às crianças pela Sra. Joaquina Telesca, proprietária do Hotel Brasil, em  comemoração ao final da 2ª Guerra Mundial.