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segunda-feira, 23 de março de 2015

Canguçu, terra de índio

          Aproxima-se o dia 19 de abril, data  fixada para que se relembre a presença indígena em nosso país.
          Normalmente esta é uma data lembrada apenas no calendário escolar, quando as crianças dos anos iniciais pintam indiozinhos vestidos com penas coloridas, confeccionam cocares com penas de aves e colares de sementes. Neste aspecto parece que o tempo não passou, lembro ainda de pintar os tais indiozinhos nos meus primeiros anos escolares; meus filhos e com certeza os daqueles que estão lendo esta matéria, também passaram pela mesma experiência: coloriram indiozinhos para decorar a sala, pintaram o rosto e usaram o cocar de penas  em comemoração a esta data, da qual pouco ou nada entendiam de seu enorme significado, pois os índios viviam na fantasia das crianças e assim como os sete anões e a Branca de Neve, saiam da fantasia somente no mês de abril para enfeitar as salas de aula.
          Toda essa introdução serve apenas para relembrar à presença indígena em nossa história, pois o índio é o elemento nativo da terra brasileira, e como tal também habitou nosso chão. Precisamos descobrir e valorizar a herança cultural  deixada pelos indígenas e dedicar tempo de estudo em sala de aula  á  sua real participação na história brasileira.

           Vamos ao registro histórico.

Canguçu e outros municípios da Serra dos Tapes  e do Herval fazem parte do complexo cristalino do RS, com aproximadamente 1 bilhão e meio de anos, sendo as terras mais antigas do RS.
            Na Serra dos Tapes  viviam os índios Tapes da nação Tupi-Guarani.
            A presença indígena em canguçu foi mais acentuada no Canguçu Velho e Rincão dos Maias, onde foram encontrados sinais de cemitérios indígenas.
            Os últimos índios canguçuenses terminaram seus dias no Posto Branco, na década de 30 do século XX.
            Segundo pesquisas arqueológicas realizadas no escudo cristalino do RS por José Proença Brochado nos anos 1969-1970, a fase Canguçu encontrava-se representada por 16 sítios cerâmicos abertos e superficiais, situados sobre o escudo cristalino, desde a sua encosta voltada para o sul até quase o rio Camaquã.
            A maioria dos sítios encontravam-se  no topo das elevações, outros na sua encosta ou quase na base, sempre em terrenos com forte declive. A maior parte foi encontrada dentro da mata que recobria primitivamente o topo das elevações, outros ao longo das sangas, muito raramente nas zonas onde se  mistura mata e campo, distanciando-se do local mais próximo de aprovisionamento d'água, de 100 a 200 metros.
            Em Canguçu foram encontrados 33 vestígios de habitações de planta circular ou elíptica.
            Todos os sítios desta fase seriam de habitação, mas em 3 deles foram retirados 5 urnas funerárias, (Iapepó) uma delas com tampa, contendo outras vasilhas menores, um instrumento e um núcleo lascado, dentes e fragmentos de ossos humanos, indicando que alguns deles constituíram também sítios cemitérios.
            Em cerâmica foram encontrados 3.432 cacos, sendo divididos em 9 tipos, 1 simples e 8 decorados. O método de manufatura observado foi o acordelado e a queima provavelmente efetuada em fogueira aberta. O alisamento da superfície externa da cerâmica sem decoração é, em geral, muito pobre, mas o da superfície interna é bem melhor. Nas formas das vasilhas reconstituídas, entre as poucas características da tradição Tupi-Guarani, predominam as simples ou menos complicadas, em geral de dimensões médias ou pequenas.
            ARTEFATOS LÍTICOS- O material lítico comumente associado a esta fase são as bolas picoteadas com sulcos, os seixos com sinais de uso, lascados ou polidos; algumas lascas muitas vezes corticais, naturalmente cortantes ou pontiagudas, com sinais de utilização ou não e com os restos de lascamento.

            O estudo arqueológico em nossas terras chegou a conclusão que:
 As fases Camaquã e Canguçu parecem mais ou menos contemporâneas, de modo que se poderia pensar que teria se estendido até fins do século XVIII. Esta suposição  é reforçada pelo fato de que no final a cerâmica da última ocupação, indica prováveis contatos com a cultura  europeia , que deram origens a tipos distintos dos típicos da tradição Tupi-Guarani, aproximando-se bastante da tradição neo-brasileira.
            O início das fases Canguçu e Camaquã não foram fixados com  exatidão, no entanto, pode-se pensar que seria relativamente  recente talvez dos séculos XVI e XVII.
            Encontram-se no Museu Histórico Capitão Henrique José Barbosa os  seguintes objetos indígenas:
            Igaçabas, Cambuchi  ou urnas funerárias, encontradas no 3º distrito e na Florida;
            Yapepó e cambuchi, encontrados na Florida;
            Zoólito encontrado no 5º distrito;
            Material lítico, encontrados no Passo da Divisa entre o 2º e o 5º distrito e na Flor da Palma no 5º distrito.
            Cachimbo indígena, pontas de flecha e lanças encontrados na Coxilha dos Campos e no 5º distrito;
            Seixos  ou pedras de boleadeiras.

Fonte: Pesquisa arqueológicas realizada no escudo cristalino  do RS ( Serra do Sudeste), por José  Proença Brochado, nos anos 1969 e 1970 fase de pesquisas  nas terras de Canguçu.


Arquivo: Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa

Fotos: Arquivo fotográfico do Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa