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domingo, 5 de outubro de 2014

Novamente é eleição


Embalada pelo barulho dos foguetes... e naturalmente é assim, pois quem ganha festeja, quem não ganha chora... me vem aquela vontade de visitar o meu blog e fazer algum registro...






Novamente é dia de eleição...

Embora persista em muitos o pensamento: “ Eu não gosto de política” ou “Não me envolvo com este assunto”; enquanto cidadãos  precisamos sim pensar no assunto com seriedade, não interessando se é de gosto ou não, se pretendemos ou não nos  envolver diretamente; o que interessa é o nosso dever cívico que deverá ser cumprido com seriedade. 
Não concordo com a visão de que políticos são todos iguais, não os vejo todos com os mesmos olhos, acho que não podemos generalizar, pois todos tem a sua individualidade, ninguém é desprovido de  valores e  defeitos, todos temos. 


 Vamos à história da terrinha...

Em nosso município o assunto "política",  sempre foi um o assunto levado muito a sério, às divergências políticas no passado sempre foram acirradas e ainda hoje quando o pleito é municipal a " chapa" costuma esquentar. Aqui, como em muitos outros lugares, no passado, com certeza os mortos votaram, as urnas sumiram, as balas comeram e os coronéis comandaram  seus rebanhos, pois isto fez parte da história do nosso estado e do nosso país.
Busco então na memória o que poderia ilustrar o tema a que me propus escrever e me vem à mente um episódio, ocorrido em nossa cidade, lá pelos idos de  1927, que de tão vergonhoso, é do  conhecimento de poucos, estou me referindo a esquecida “ Noite do Bambu ”, que pesquisada por Corálio Cabeda, saiu do esquecimento e é descrita, enfatizando as conseqüências da intolerância, e os comprometimentos de se fazer política baseada no  parcialismo político-partidário.     
Sendo assim, tendo por base a pesquisa realizada por Cabeda, passo a narrar um fato muito interessante.

           E Cabeda coloca assim: “ Corria o ano de  1927, na então vila de Canguçu. A população antes animada e laboriosa havia mudado muito após a sangrenta revolução de 1893; muitas famílias de abastados estancieiros, que tinham casas na vila e para cá se dirigiam, residindo durante longos períodos do ano, por questões políticas, haviam vendido seus bens e fixado-se na República Oriental do Uruguai, Pelotas ou  tomaram outro destino, o que levou o município de Canguçu a um longo período de retrocesso  e estagnação econômica".

Assim, chegamos ao ano 1927 e segundo Cabeda: 
“ Com vistas às eleições legislativas federais de 24 de fevereiro de 1927, caravanas de políticos da Aliança Libertadora percorriam os municípios da zona sul do Estado, em trabalho de propaganda de seus candidatos. No dia 13 daquele mês, eram aguardados em Canguçu o deputado federal Dr. Francisco Antunes Maciel Jr., Zeferino (Ferico) Costa e Djalma Mattos. Os aliancistas locais organizaram, então, uma recepção na espaçosa residência de Alberto da Silva Tavares, um dos melhores prédios da vila, situado na General Osório, sua principal via pública, onde hoje se localiza o Clube Harmonia. Divulgou-se, também, o seguinte boletim: “Os altos interesses da Pátria e do partido, hoje mais do que nunca, reclamam a nossa cooperação. O mandato da luta nos foi renovado. Lutemos, pois, haja o que houver. Dependerá, talvez, da nossa participação, dos nossos votos na eleição de 24, a regeneração desta República de ficção, de conluios, de negociatas e de políticos profissionais. Mostremos ao Brasil que o Rio Grande do Sul, em matéria política, nem todos conjugam o verbo "aderir”...ao governo. A abstenção e o esmorecimento significam a sepultura dos povos poltrões, como ensina Ruy Barbosa. E só os resignado são o regime do cativeiro, da senzala, da feitoria, do vergalho e da infâmia perecem. Saibamos alcançar para nós mesmos o que soubemos conseguir para os africanos: a redenção e a liberdade. Não abandonemos a causa da libertação. Tenhamos confiança e fé absoluta na vitória da liberdade, do direito e da justiça. O POVO QUE LEIA E JULGUE! 
À noite, com a presença de dezenas de correligionários, entre os quais muitas senhoras e senhoritas, desenvolvia-se a recepção, quando, inopinadamente, a casa foi invadida, aos gritos, por soldados do 12º Corpo Auxiliar da Brigada Militar, que passaram a espancar os participantes. “

FONTE: Arquivo Borges de Medeiros, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, Porto Alegre
Arquivo Ângelo Pires Moreira, Pelotas.

            Continuando o historiador coloca:
     “A cena de violência prosseguiu pelas ruas da vila, com a perseguição e o espancamento de todos os que tentavam fugir, pois a casa fora cercada pelos “provisórios”...  
E ainda...
“É de imaginar-se o escândalo e a indignação produzidos pela insólita atitude dos “provisórios”, ainda mais que não se acreditava tivesse tamanho atrevimento partido de simples praças comandados por dois oficiais subalternos. A imprensa governista, enquanto isso, noticiava os acontecimentos segundo a sua ótica, procurando lançar a culpa e o ridículo sobre os aliancistas, como o fez A Opinião Pública, de Pelotas:“ À noite, lendo o boletim em uma reunião em casa de Alberto Tavares, um grupo republicano estabeleceu discussão, que atingiu a conflito, saindo vários contundidos, inclusive Ferico Costa e tendo Maciel Junior se escondido debaixo da cama do casal Alberto Tavares [grifado no original]. A força auxiliar interveio imediatamente, dissolvendo os agrupamentos e cercando a casa de Tavares, onde ficaram garantidos os indesejáveis visitantes." Tem sido muito comentada a permanente agressividade desse pessoal, caluniador contumaz.”
O intendente e comandante do 12º Corpo Auxiliar telegrafava a Borges de Medeiros dando a sua versão dos fatos, alegando que o desentendimento havia ocorrido devido a distribuição de boletins insultantes ao Partido Republicano. Citava os participantes da reunião: Zeca Moreira, Dr. Walter Prestes, Germano Ziezemer, Germano Ribeiro Prestes, Sebastião Ribeiro de Souza, Joaquim Correia de Paiva, Abrigildo Rodrigues da Silva, Lúcio Nunes Rodrigues, Joaquim Isidro Coelho, Armando Joaquim Coelho, Hilda Lopes, Chaninha Rostand, Nina Viana, Enedina e Esmeralda Barbosa, Dadinha Gonçalves e PanchaTavares (esposa do anfitrião).

Esclarecia ainda que o Corpo de Provisórios só havia interferido para restabelecer a ordem, garantindo a casa e o pessoal que ali se encontrava. 
Continuando...
“ Como se vê, de agressores, os bravos “provisórios” passaram a protetores e garantidores dos agredidos...No dia 18 de fevereiro, voltava A Opinião Pública a noticiar o que chamou Os Sucessos de Canguçu: “Noticiamos, ontem, à última hora, que o governo do Estado resolvera mandar abrir rigoroso inquérito sobre os acontecimentos de Canguçu que, como sabem os nossos leitores, foram provocados por elementos da Aliança Libertadora desta cidade e daquela vila. A fim de dar a esse inquérito toda a imparcialidade indispensável a tais recursos da lei, permanecerá naquela vila o ilustre conterrâneo Dr. A. A. Maciel Moreira, digno sub-chefe de polícia e cuja ação legal tem sido elogiada pelos próprios adversários.”Algum tempo depois, avançando em suas investigações, o Dr. Maciel Moreira pedia afastamento do cargo...Em Canguçu, enquanto isso, era voz corrente a premeditação do atentado por parte da cúpula local do Partido Republicano. Um dia antes, 12 de fevereiro, dois desses dirigentes foram vistos no Clube Harmonia comentando a “surpresa” que aguardava os aliancistas...”

FONTE: Arquivo Borges de Medeiros, Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. A Opinião Pública, Pelotas, 18/02/1927, Arquivo Ângelo Pires Moreira, Pelotas. Informação do Sr. Lúcio Nunes Rodrigues, Canguçu, 27/12/1992. Informação da Profª Marlene Barbosa Coelho, Canguçu, 27/12/1927.

            Sabe-se que o caso foi a diante, os praças foram denunciados e o nome de muitos foi identificado, porém, não foram identificados os mandantes ( como era de se esperar). Resta o resumo da história ... “foram eles , armados de cacetes, relhos e adagas, se postar na frente da casa de Alberto da Silva Tavares, em Canguçu, na noite de 13 de fevereiro de 1927, para atacar o auto em que deveria vir o Dr. Francisco Antunes Maciel, então deputado federal por este Estado, e com assuada e bordoada, acabaram com a reunião política que se realizava no interior da aludida casa.”

 “Hoje, a sinistra Noite do Bambu não é lembrada, nem comentada e até as gramínea, que ornamentavam a antiga Praça Marechal Floriano e que forneceram a matéria-prima para a confecção dos cacetes brandidos pelos “provisórios”, desapareceram...”

Referências bibliográficas ALMANAK Literario e Estatístico do Rio Grande do Sul para 1905, p. 153.BENTO, Claudio Moreira – Palavras Iniciais do Álbum da Saudade. História de Canguçu, 1972 CACIMBINHAS ILUSTRADA, Cacimbinhas, ano I, nº 7, junho de1929, coleção Profª Marlene Barbosa Coelho, Canguçu.DIEBELS, S. J. , Pe. Francisco Xavier – Rosas e Espinhos. Reminiscências de 50 Anos de Vida Missionária em Cidades, Colônias, Campanha e Coxilhas do Sul do Brasil, escritas apedido de Rev. Pe. Provincial; São Leopoldo, Instituto Anchieta no de Pesquisas, Unisinos, Publicações Avulsas nº 9, 1988.RIBEIRO, Cel Aldo Ladeira – Esboço Histórico da Brigada Militar; Porto Alegre, Of. Graf. daBrigada Militar, 1953, 2º vol.SÁ, Mem de – A Politização do Rio Grande; Porto Alegre, Edições Tabajara, 1973.VARELA, Alfredo – Res Avita; Lisboa, Tip. Mauricio & Monteiro,
1935.
             


E foi assim...     Mais uma história contada que chega ao fim!